sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

SOBRE O REBAIXAMENTO DA NOTA DO BRASIL

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O rebaixamento da nota do Brasil pela Standard & Poor's suscitou leituras quase díspares, formuladas por dois bons observadores. Há, certamente, outras leituras. A deste blog se resumiria à seguinte: O trabalho das agências de risco pode ser encomendado por 'n' interessados, mas sobre todo o cenário paira um propósito inabalável: Não serão poupados esforços no sentido de que o integral e tempestivo cumprimento do serviço (juros + parcelas de capital) da dívida pública resulte preservado/assegurado. Tudo gira em torno disso, tudo o que se revelar necessário será feito, ou tentado. 
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A seguir, duas leituras:

1. Artigo de autoria do economista J. Carlos de Assis:


A chantagem da Standard para impor a reforma previdenciária

Suponha que você crie fantasmas e em seguida contrate exorcistas para acabarem com eles. Esta é mais ou menos a situação de países que pagam agências de risco para os avaliarem. Trata-se de uma das coisas mais estúpidas que podem acontecer nas  relações financeiras internacionais porque as agências de risco, desde que o FMI e o Banco Mundial perderam parte de seu poder de pressão política, não são propriamente avaliadoras de crédito, mas sim avaliadoras de políticas econômicas dos países.

É uma intromissão direta desses agentes privados – principalmente Standard&Poor's, Moody's e Fitch – na vida interna dos países. Uma violação consentida de soberania. Pessoas de boa fé podem acreditar que se trata realmente de avaliação técnica de crédito mas o propósito profundo é alinhar os diferentes países, e em especial aqueles em desenvolvimento, ao famigerado Consenso de Washington e às políticas neoliberais no plano fiscal-monetário e em outras dimensões macroeconômicas, como a plena liberdade dos fluxos de capitais.
Se há dúvida sobre isso, basta examinar a cobertura que a Globo deu ontem à notícia de rebaixamento da nota da Standard&Poors para o Brasil. Foram três longas interseções intercaladas ao longo do noticiário. Nenhum outro assunto mereceu algo sequer parecido. E a pergunta que se faz é: Por quê essa cobertura exaustiva? A quê se deve isso se a televisão é um instrumento de comunicação de massa, e há poucas razões para acreditar que a esmagadora maioria dos telespectadores da Globo nem sabe o que é agência de risco?
Sabem a razão da extensa cobertura? A Globo está pouco se lixando para risco-país, mas se mostra interessadíssima na reforma da Previdência, de interesse reconhecido para o grande capital financeiro interno e mundial. Ela então cria um fantasma, o escândalo em torno do rebaixamento da nota, e em seguida apresenta o exorcista: A reforma previdenciária. Aí tudo encaixa, porque é também o discurso de Michel Temer e Henrique Meirelles. Sem reforma da Previdência, dizem eles, o rebaixamento da agência nos levará ao fim do mundo.
Para um governo mergulhado na mentira e na hipocrisia, e com sabidas relações com a canalha financeira externa, não seria difícil conseguir com a  agência de risco dar uma marretada na nota para supostamente melhorar seu perfil de crédito. Se fizesse isso perderia a oportunidade exigir do Congresso a reforma da Previdência.  No cardápio vai junto  a queda de inflação -  obviamente um fenômeno de demanda, devido ao alto desemprego e queda de salários -, que também se apresenta como motivo para a reforma previdenciária.
Um governo futuro, comprometido com a soberania nacional e a defesa dos interesses populares, saberá escapar da armadilha das agências de risco ocidentais.  Bastaria consolidar suas relações com o sistema financeiro asiático, aprofundando as conexões com o Novo Banco de Desenvolvimento, ou Banco dos BRICS, e outros grandes bancos  chineses. A China tem uma agência de classificação de risco, Dagong, bem ancorada em informações técnicas.  Tenho certeza de que recomendaria crédito ao Brasil sem se meter na política econômica interna.  -  (Aqui).
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2. Comentário do analista André Araújo, tendo presentes, entre outros, o entendimento acima exposto:
"'Uma violação consentida da soberania'. NADA A VER. Agências de rating são prestadoras de serviços e cobram para dar notas. É o Governo do Brasil quem  pede para que a agência dê notas e paga a fatura para esse serviço. É como pedir um laudo para um perito, pagando seus honorários, pede quem quer, não é obrigado. Mas esse RATING não tem tanta importância; o mercado não dá muita importância hoje em dia como dava no passado e isso tem pouca influência na atração de investimentos. O Brasil cresceu à média de 7% ao ano entre 1950 e 1980, a maior taxa de crescimento do planeta, com notas baixíssimas, moratórias, crises cambiais. A China criou sua própria agência de rating, a DANG, muito reputada, que mais ou menos segue as agências anglo-americanas (Nota deste blog: Não localizamos no Google referência à DANG, mas à DAGONG - aqui -, citada por J. Carlos de Assis); nada disso hoje tem a ver com soberania, é um serviço comercial.
Só gente medíocre e caipira como as que formam certos círculos de economistas brasileiros dá importância a essas agências."
Os grandes fundos de investimento do mundo, como o BlackRock, com 7 trilhões de dólares de ativos, o Vanguard, com 3 trilhões de dólares, o PIMCO, também com 3 trilhões de dólares [e há mais 18 fundos americanos com mais de  1 trilhão de dólares cada um] têm seus próprios departamentos de pesquisa e não dão importância a notas de rating.
A prova dessa desimportância é que a cotação do dólar hoje  não acusou nenhum impacto, após a nota da  S & P.

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