domingo, 16 de julho de 2017

FERNANDO BRITO, UM JORNALISTA SOB O FOCO DO TEMPO AO CONTRÁRIO


Sei de onde vim, de um mundo que estão matando

Por Fernando Brito

Minha história pessoal  é a história da afirmação do mundo do trabalho.

Do lado do pai, um avô morto cedo, descendo das Alagoas para o Rio, um pai bancário para sustentar seus estudos de História e Geografia, e uma profusão de tios e maridos das tias, um outro bancário, mais um “posto em disponibilidade”  – isso era quase um homicídio funcional – do Lloyd Brasileiro, ganhando a vida valentemente como técnico de televisão (no tempo em que tvs tinham técnicos, flybacks e seletores de canal), outro taxista, com a garotada lavando o carro todo o dia com querosene, para brilhar a lataria.

Do lado da mãe, migrantes do interior, para ganhar a vida no Rio que se espalhava nos subúrbios operários, onde os IAPIs dignos  em Realengo sucediam as “cabeças de porco” embora tenham quase virado favelas agora, porque os filhos e agora os netos e os bisnetos não têm para onde ir, senão para os “puxados” que os terrenos amplos e as construções sólidas permitiam.

Nem meus pais, nem meus avós foram gente extraordinária, como eu não sou.

Não somos iguaizinhos, espalhados e sujeitados a este mundo vário, eu e meus primos, mas algo temos em comum.

Tivemos mais chances que nossos pais, como nossos pais as tiveram muito maiores do que os nossos avós.

Muitos são bacharéis, outros mestres, alguns doutores a quem os anos carcomem as faces, mas talvez não as memórias dos guarus (os “barrigudinhos”)  pescados nos valões, volta e meia uma rã carnuda a nos deixar orgulhosos do troféu de caça em Madureira.

Só na maturidade, conversando com um amigo médico, com todos os meus preconceitos de “marxista”,  é que fui entender o que se passava: “Fernando, nós somos netos de Getúlio Vargas”.

E somos mesmo, netos de gente que passou a ter direitos, filhos de gente que passou a ter progresso, porque, ainda que não para todos, havia a escola pública.

Somos netos e filhos de um mundo onde o trabalho passou a ter direitos e, talvez, os acasos das vidas nos tenham feito esquecer disso, agora que alguns de nós tenhamos – justo pelo que a vida nos deu – saído da carência e da necessidade.

É por isso que ao ver meu País retroceder à barbárie que antecedeu nossos pais e da qual se livraram nossos avós sinto o tempo passar ao contrário.

Não para mim, a quem a vida deu muito e da qual pouco espero.

Mas para os que fazem, até por vezes negando, os que fazem de mim um degrau rumo ao futuro.

Degrau que já não se sente forte para lhes dar o impulso adiante, mas que não será fraco de romper sem barulho, sem que que cada fibra que lhe resta resista à força dos que tentam vergar o tempo ao contrário.

De muita gente se pode tirar o futuro, mas certamente de muitos não podem tirar o passado.  -  (AQUI).

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Incisiva, uma leitora, solidária ao jornalista batalhador - titular do blog Tijolaço, de onde trouxemos o texto acima -, vai ao ponto, listando opiniões sobre tópicos cruciais da Reforma Trabalhista: 

"... A CLT é de 1943, mas desde sua promulgação vários de seus artigos foram alterados, portanto falar que a lei por ser antiga precisava ser reformada é um argumento para enrolar otário.

Devido a vida moderna, a figura do Home Office precisava ser incluída na CLT, assim como alguns pequenos ajustes, como a repartição da férias, mas que poderiam ser feitos mediante legislação comum, como tantas outras alterações foram feitas desde 1943.

Entretanto, nada justifica uma reforma trabalhista.
Ainda mais uma reforma, assim chamada, pois de reforma não te
m nada, que apenas retira direitos. Veja alguns dos prejuízos que o trabalhador terá:

FIM DA CLT: VALE O ACORDO SOBRE A LEI
FIM DA GRATUIDADE NA JUSTIÇA DO TRABALHO
JORNADA PARCIAL PASSA DE 25 HORAS PARA 30 HORAS
FIM DAS HORAS IN ITINERE
FIM DA HORA DE ALMOÇO SERÁ MERA CONCESSÃO
FIM DA RESCISÃO JUNTO AO MT, SINDICATO ETC. SERÁ NA EMPRESA
FIM DO PISO SALARIAL DAS CATEGORIAS
FIM DE BENEFÍCIOS, PRÊMIOS E BONIFICAÇÕES

Com a palavra aqueles que por ódio ao PT aceitam que lhes retirem direitos mansamente, e peço que antes de se manifestarem listem os benefícios que essa reforma trará, se forem capazes!"


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