domingo, 28 de maio de 2017

SEGUE FIRME A CAMPANHA DIRETAS-JÁ

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Enquanto a campanha pelas Diretas-Já segue viva pelo Brasil, como a magnífica manifestação de há pouco em Copacabana, Rio, setores da imprensa desprezam as iniciativas populares. Curiosamente, a Globo, que em 1983 ignorou a campanha que mobilizou o país, agora oferece algum espaço; a Folha, que à época 'abriu as comportas', hoje quase silencia, ou menospreza.


Após 34 anos, Folha de São Paulo se acovarda!

Por Marcelo Auler

Quem lê o editorial deste domingo (28/05) da Folha de S. Paulo – Sucessão Especulada – e foi testemunha, em 1983, da audaciosa coragem do jornal ao publicar o editorial "Por eleições diretas", conclui facilmente que na ausência do seu antigo dono, Octávio de Oliveira Frias, o jornal, hoje comandado por seus filhos, Octávio Filho, na parte editorial, e Luís Frias, como presidente da empresa, se acovardou. Lamentavelmente!

A Folha, que nos anos de 1983/84 escreveu parte da História do Brasil (com maiúscula) ao se transformar em porta-voz do que a sociedade civil clamava, hoje é capaz de criticar o processo de escolha indireta, como faz o editorial, sem, contudo, assumir aqui que milhões de brasileiros já pedem em praça pública e renovarão os pedidos ao longo deste mesmo domingo ao ocuparem ruas de diversas cidades brasileiras: Diretas Já!

Este foi o primeiro (editorial), mas não o único. Talvez, o mais importante tenha sido o de 3 de novembro do mesmo ano – Diretas agora - que marcou definitivamente o ingresso do jornal na campanha, transformando-o no Jornal das Diretas. Algo bastante ousado na época, mas que só a Folha, por sua independência financeira e editorial, poderia fazer. O resultado, até comercialmente falando, foi palpável, a ponto de tornar-se o maior matutino do país. Em termos de respeitabilidade então nem se fale. Quem viveu aquela época como seu repórter sabe disso.

Vivo fosse “Sr. Frias”, que muitos acusavam de ser um “granjeiro dono de jornal”, jamais publicaria uma posição em cima do muro como a que seus filhos fizeram hoje em um jornal que, merecidamente, foi chamado por Ulisses Guimarães de “Porta-voz das Diretas Já!“.
Basta lembrar a forma como ele decidiu engajá-lo e toda a sua equipe, a partir de novembro daquele ano, na campanha que ainda se iniciava. Fui partícipe desta bela época e testemunhei tais fatos, ainda que possa não ter estado em todas as reuniões que o levaram a ganhar destaque na sociedade brasileira.


A ideia de o jornal – que se intitulava um “saco de gatos” por se dar ao direito de, em plena ditadura, publicar artigos de todas as correntes ideológicas -, abraçar a bandeira do voto do eleitor para escolher o sucessor do general de plantão no Planalto, João Baptista Figueiredo, partiu do Ricardo Kotscho. Ele, casualmente, sentava-se ao meu lado na velha redação da Rua Barão de Limeira. Entre a apresentação da proposta que idealizou durante um fim de semana e a decisão do “Sr. Frias” não foram gastos nem 24 horas, como narro mais adiante.
O jornal poderia – como queriam alguns, entre os quais Boris Casoy, então diretor de redação - não abraçar esta bandeira. Jamais, porém, tomaria uma posição dúbia, como consta do editorial deste domingo, quase três décadas e meia depois.

Kotscho entregou as três laudas em que expôs e defendeu o engajamento na campanha como forma de a Folha tomar o partido da sociedade civil que já clamava há tempos pelo direito de escolher seu presidente, a Adilson Laranjeiras, então chefe de reportagem. Pouco tempo depois estava nas mãos do Sr. Frias, que convocou editores e repórteres especiais para uma reunião na mesma tarde, ou fim de tarde. Após ler o que recebera como proposta, todos foram ouvidos.

Eu não estava nessa reunião, ainda era um “bagrinho” como diziam, embora participasse da Comissão de Redação – a primeira instituída oficialmente em órgão de imprensa. Pelo que soube, o último a falar foi justamente Casoy, que se posicionou contrário à ideia, dando seus motivos. “Sr. Frias”, porém, não se convenceu e decidiu ali mesmo que o jornal se engajaria na campanha.

No relato do próprio Kotscho no livro “Explode um Novo Brasil – Diário da Campanha das Diretas” (Editora Brasiliense, 1984), na hora foi constituído um grupo para cuidar de toda a cobertura da campanha que era coordenado exatamente por Octávio Frias Filho, então secretário do Conselho Editorial. Como tal ele respondia, junto com o pai, pela linha editorial que o jornal tinha. Por isso, causa estranheza a quem viveu aquele período dentro do que chamávamos de “Vênus Pastilhada” (por conta das pastilhas amarelas que cobriam sua fachada e em um contraponto ao prédio da Rede Globo no Rio, conhecido como Vênus Platinada), ver a Folha, ainda sob o comando de Octávio Frias Filho, publicar um editorial com as passagens que destaco abaixo:


Nem se recorra ao argumento de que hoje a Constituição prega a eleição por meio do Congresso Nacional. Isso também acontecia em 1983 e a Folha foi clara ao se opor ao texto daquela Carta, reescrita durante a ditadura civil-militar, que o jornal apoiou no seu início, com episódios lamentáveis que a História registrou. A campanha de 1983, no fundo, é quase idêntica à campanha atual que ganha cada vez mais adesão da população: mude-se a regra.

O “quase idêntica” fica por conta de que hoje, como narramos em TSE pode provocar Diretas Já!, existir na legislação vigente a previsão da eleição direta no caso da vacância dos cargos de presidente e vice-presidente. Está no Código Eleitoral. É verdade que a constitucionalidade dele está sendo questionada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no Supremo Tribunal Federal, desde maio de 2016.  
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(Para continuar, clique AQUI; texto reproduzido no Jornal GGN - AQUI).
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Dois comentários de leitores sem papas na língua:

Henrique O: 
"1983 foi um ponto fora da curva na história do jornal dos Frias: 
Apoiou o golpe de 64, os governos da ditadura civil-militar, emprestou as peruas para operação bandeirantes, conseguiu de Paulo Maluf a estação rodoviária paulista, arrendou a Folha da Tarde para a repressão, apoiou o golpe de 2016. Afinal o golpe de 2016 é Paulista; a Folha e o Estadão são porta-vozes do mesmo. E Temer é da elite paulista. Enquanto isto a burguesia paulista está apertando o torniquete contra a revista Carta Capital, cortando os poucos anúncios que ainda fazia na mesma."

André Araújo:
"Uma estória maluca. Diretas Já no atual contexto não faz parte da realidade factual e não tem absolutamente nada a ver com as eleições que se seguiram ao fim do regime militar. São circunstâncias históricas completamente diferentes e o TEMPO para uma campanha dessa natureza, no primeiro caso levou um ano, agora levaria, se viável fosse, um tempo tão longo que chegaríamos nas eleições normais de outubro de 2018; no meio tempo o Pais estaria convulsionado mais do que já está hoje."
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O problema é que o que inspira o grupo a ser contra o movimento não parece ser a questão tempo hábil (na qual se apoia André Araújo), mas a conveniência, a opção político-partidária da direção da Folha.

A propósito, vale lembrar que, segundo ministros, a exemplo de Luis Roberto Barroso, o STF poderá, por iniciativa própria, deliberar sobre a questão das diretas já para 2018. Por via das dúvidas, os movimentos sociais que se mobilizem nas ruas!

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