sábado, 25 de março de 2017

A CORRIDA EM BUSCA DA SAÍDA CADA VEZ MAIS OBSTRUÍDA


Aumenta a revolta contra a Lava Jato

Por Vinicius Torres Freire

A MARÉ CONTRA o partido da Lava Jato não virou. Mas o apoio a jacobinos de Procuradoria, Justiça e polícia faz água na elite.

Articulistas e porta-vozes da direita à esquerda criticam o autoritarismo crescente do "partido da Justiça" e a demonização da política. Regentes auxiliares de Michel Temer lideram o basta, como Gilmar Mendes, entre outros.

O acordão do baixíssimo clero no Congresso ora conta com apoio explícito do clero rebaixado de PSDB e PT. Companheiros de viagem desses dois partidos e outras figuras mais respeitáveis na opinião pública elaboram a defesa intelectual do armistício.

Misturam-se os objetivos de conter extravagâncias do "partido da Justiça", de evitar a destruição de empresas enroladas, de sufocar salvadores da pátria e de preservar a viabilidade eleitoral de partidos ditos menos podres.

Os jacobinos deram a deixa. A lambança policial na Carne Fraca e o "pega um, pega geral" das delações deflagram revoltas.

Há empecilhos legais e judiciais a um acordão pacificador amplo e geral, além de pedras no caminho político. O ódio mortal entre PSDB e PT, ainda os polos achatados da política partidária, atrapalha conversas desenvoltas.

Desde 2014, a estratégia é de destruição mútua. Desgraças comuns levaram os dois partidos, cada um por sua conta, a aderir a teses assemelhadas de salvação, uma comunhão involuntária de interesses.

Os dois partidos aceitam o que se pode chamar de "doutrina Aécio Neves": se pegarem todos os ruins, sobram apenas os piores. Isto é, querem algum plano de anistia.

Um acordão pacificador de amplo espectro, que inclua também o PT, tem pelo menos três empecilhos maiores.

Primeiro, as pontes de diálogo foram queimadas. Desde o fim de 2014, quando começou a campanha para depor Dilma Rousseff, o PSDB imaginava que sairia limpinho da história com que amaldiçoou o PT.

Os tucanos levavam vantagem na luta livre até que o partido passou a ser vítima dos mesmos golpes. Procuradores, polícia e juízes ameaçam cabeças do PSDB, com apoio das "ruas".

O PSDB baixou a bola desse jogo anti-PT, mas ainda diz que não vale "misturar todos na vala comum". Falta diálogo para dar efeito prático ao acordão tácito.

Segundo empecilho: como fazer com que as "bases" engulam o acordão? O que o PSDB vai dizer às "ruas" da "ética na política"? Como explicar que casou em comunhão total de bens com o PMDB e deu gorjeta ao PT? O que o PT vai dizer às suas bases "Fora, Temer!" ao embarcar no trem da alegria dos "golpistas"?

Com jeitinho se inventaria mentira palatável. Mas então se chega ao terceiro problema: falta liderança capaz e legítima o bastante para acertar o armistício entre partidos e vender esse peixe para as "ruas".

O acordão quer zerar o jogo, permitir que os "menos piores" "comecem de novo". Mas tem também de entregar algumas cabeças e conseguir algum perdão do eleitor mediano.

Os partidos de podridão mais histórica podem até passar o acordão na marra, talvez deixando o PT de fora. Essa solução bruta atiçaria os jacobinos. O povo ficaria em revolta maior, muda ou não. A fúria daria força a salvadores da pátria e à desmoralização da política. Que era o que se pretendia evitar. QED.  

(Fonte: Folha de São Paulo; texto reproduzido pelo Jornal GGNAQUI).

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Resumo Alternativo
O serviço foi 99% realizado no que tange a uma determinada e execrada agremiação política. Paladinos, mídia, doutos, nunca se vira tanta competência, tanto domínio da arte de "solapar as bases" de um inimigo. Sucesso retumbante. 
Tudo corria bem, os paladinos seguiam cada vez mais prestigiados, mandando e desmandando, nadando em vantagens e benesses, reinando na mídia e arredores e, mais importante, colocados em patamar superior ao da própria Carta Magna. Mas...
Foi então que chegou a hora de os chamados líderes virtuosos serem incluídos na dança. É que a sanha persecutória dirigida à já referida e execrada agremiação política despertara entre os mortais comuns a revolta diante da complacência com que os líderes virtuosos vinham sendo distinguidos. As redes sociais pululavam de cobranças e exigências de ao menos um pouco de 'reciprocidade', quero dizer, de 'chamada dos virtuosos às falas'. 
Mas todos, execrados e virtuosos, a essa altura já procuravam, 'irmanados', uma saída honrosa, mesmo que com os execrados para sempre execrados e os virtuosos ainda preservando de alguma forma a aura de éticos.
A história está nesse pé. Não se sabe se o acordão prosperará. O certo é que, seja qual for o desfecho da mobilização contra a Operação, paladinos, mídia e doutos continuarão por cima da carne seca, prenhes de vantagens e benesses em meio a um país alquebrado.

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