quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

SOB O DOMÍNIO DA METRÓPOLE


A armadilha da Bolsa de Nova York

Por André Araújo

O Brasil é o 2º país estrangeiro em número de companhias listadas na Bolsa de Nova York, com 33 empresas, sendo o Canada o 1º com 80 empresas. É um numero surpreendente, o Brasil tem mais companhias que o Reino Unido e a França, grandes economias desenvolvidas. Não tem muita lógica e tem imensos riscos que poucos perceberam na hora da alegria de bater o martelo em Wall Street.


Parte das companhias brasileiras listaram suas ações por uma questão de prestígio, mas com isso entram numa zona de altíssimo risco de se submeterem à jurisdição do Governo americano, risco que provavelmente não foi avaliado nos festejos de sua listagem: toda a diretoria em Nova York, a batida do martelo televisionada, é a gloria. Depois vem a conta.
A direção da Bolsa de Nova York fez campanhas no Brasil para conseguir empresas daqui para se listarem nessa Bolsa, ícone do capitalismo,  a Bolsa onde começou a Grande Depressão de 1929, hoje uma sociedade anônima com fins lucrativos e que precisa de clientes. Dois presidentes da Bolsa vieram ao Brasil para aliciar empresas daqui e pelo visto tiveram sucesso. Trinta e três companhias brasileiras listaram suas ações em Nova York, um número desproporcional ao tamanho da economia do Pais.
A empresa símbolo do Brasil listada em Nova York é a Petrobras, hoje acossada com processos de todo tipo por causa dessa listagem, no Departamento de Justiça em Washington e na Comissão de Valores Mobiliários em Nova York,  em cada um com riscos de altíssimas penas de multas e também processos criminais contra seus dirigentes; os diretores de empresas listadas têm fichas pessoais completas arquivadas na Bolsa e qualquer investidor ou procurador pode acessar para poder processar, além da empresa, seus diretores.
A simples listagem não oferece base legal para o Departamento de Justiça considerar a Petrobras como empresa americana e sujeita a ser processada como se tal fosse, MAS eles usam a listagem como gancho para entender o que quiserem. É por essa razão que a França e o Reino Unido, gente sabida, que tem muito mais grandes empresas de capital aberto do que o Brasil, preferem não cotar suas ações em Nova York, considerando que as desvantagens superam as vantagens. A Petrobras está sendo processada pelo Departamento de Justiça em ações criminais e provavelmente vai acabar fazendo um acordo bilionário, que além do prejuízo financeiro para a empresa e ao fim para o Brasil, e vai ter um "monitor" dentro da companhia, nomeado pelo Departamento de Justiça, por dez anos, uma situação vexatória e absurda mas que faz parte desses acordos, uma vergonha para uma companhia estatal controlada pelo Estado brasileiro; quer dizer, essa grande empresa nacional vai ter dentro dela um fiscal do Governo americano.
Mas há um outro risco, ações cíveis movidas por acionistas minoritários alegando perdas por qualquer motivo, corrupção, má gestão, balanços incorretos, projeções que deram errado. O pedido para listar os papéis em Nova York traz implícita a necessidade de balanços no padrão americano, que é bem mais rigoroso do que o padrão brasileiro, provisões para qualquer risco de perdas, tudo o que demanda melhores auditores, consultores e advogados, profissionais de nível mais caro do que se exige no Brasil.
No fim é preciso cuidado para ver custos e benefícios dessa listagem, acredito que na maioria dos casos os custos e riscos superam os benefícios, especialmente se a empresa entra em uma fase de maus resultados.
As ações de minoritários são algo comum no mercado acionário americano, um negócio. Essa é uma INDÚSTRIA de achaques muito bem montada por fundos abutres e meia dúzia de escritórios de advocacia especializados, que trabalham em parcerias com os fundos abutres; por coincidência, escritórios e fundos têm nomes da mesma etnia, é uma espécie de reserva de mercado para esse grupo de profissionais de "porta de bolsa".
Os fundos compram ações em companhias com problemas já com o objetivo de mover processos, depois procuram outros acionistas que podem ir aderindo a uma só ação coletiva, chamadas de "class actions" mesmo depois da ação iniciada. O alvo é conseguir acordos milionários para desistir da ação, que além do risco monetário suja a reputação da empresa. O esquema procura com lupa qualquer deslize da direção da companhia, para entrar com a ação coletiva. Tudo lá é legal, todo mundo sabe como funcionam essas máfias forenses e isso é considerado legítimo, parte do sistema. A Petrobras tem meia dúzia dessas ações correndo e a previsão de acordos é na casa dos bilhões de dólares, além de altíssimos gastos com honorários de advogados para todas essas ações, gastos que já vão muito além de 100 milhões de dólares.
É por esse motivo que as grandes estatais petroleiras do mundo NÃO listam ações nos EUA, por razões óbvias de estratégia nacional independente, são objetivos de Estado, nem a PEMEX, nem a PDVSA, nem a SAUDI ARAMCO,  maior empresa de petróleo do mundo, nem a SONANGOL, de Angola, nem a SONATRACH da Argélia, nem a Iraq National Oil, nem a Kuwait Oil, muito menos a NIOC do Irã. Nenhum governo com projeto de País e que pretenda ter soberania nas suas decisões relativas à autonomia energética vai submeter sua empresa nacional de petróleo à jurisdição do governo dos EUA. Mas o Brasil fez isso no Governo FHC, colocou a Petrobras na boca do lobo; não se sabe bem qual foi a estratégia para isso, a Petrobras não teve nenhuma vantagem conhecida em ter ações listadas nos EUA mas teve um carrossel de problemas que nem começou a resolver. A impressão que se tem é que era uma prévia para uma futura privatização.
Hoje o Brasil tem uma Bolsa de nivel mundial, a BOVESPA é a 3ª ou 4ª do planeta, dependendo do ano, não há nenhuma necessidade de empresa brasileira listar ação em Nova York, os fundos estrangeiros compram ações brasileiras listadas na Bovespa sem qualquer problema, a Bolsa de São Paulo é coberta por todas as agências de notícias econômicas do mundo, como Bloomberg e Reuters, com cotações em tempo real.
Ah, mas como é bom ter a vaidade de poder dizer, minhas ações estão listadas na Bolsa de Nova York, é a grife que se compra caro e os brasileiros adoram grifes, é uma questão de prestígio, nada mais. (Fonte: AQUI).
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Conforme já dito neste blog, a preocupação em listar a Petrobras em Wall Street - no governo de Fernando Henrique Cardoso - repousou no propósito de tornar a empresa mais atraente, dando-lhe um verniz de, digamos, modernidade, para despertar o interesse de empreendedores externos (ou mesmo internos), uma vez que a ideia era privatizar o conglomerado - o que quase foi conseguido. O governo nem tentava dissimular, o intuito de privatizar era notório. Mas a "Petrobrax" ficou mesmo como Petrobras, negociando papéis na Bolsa de NY, porém sob o jugo da espada de Dâmocles de Wall Street. 

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