sábado, 21 de janeiro de 2017

A LAVA JATO CORRE PERIGO


"A morte de Teori Zavascki deixou o Brasil comovido e em estado de alerta. O ministro, relator do processo da Lava Jato no Supremo, estava prestes a homologar a delação premiada da Odebrecht – a maior da história do país, com alegadas citações ao presidente Michel Temer, ao chanceler José Serra e outros nomes poderosos do governo. As circunstâncias desta tragédia levantam um irrespirável ar de suspeição em todo o país e exigem uma investigação rigorosa sobre a queda do avião.

O destino da Lava Jato está agora nas mãos da presidente do STF, Cármen Lúcia. A ministra tem o poder de decidir se redistribui a relatoria do processo a um outro colega, através de sorteio, ou se espera que o novo magistrado indicado por Michel Temer assuma o caso. Ambos os caminhos encontram respaldo no regimento interno do Supremo, mas apenas um é aceitável do ponto de vista ético. Ou alguém acha justo deixar que um juiz escolhido por Temer – citado 43 vezes por um executivo da Odebrecht – seja o relator da Lava Jato? Eu acredito que Cármen Lúcia fará o que o país espera da presidente do Supremo neste momento. Mesmo assim, a Operação Lava jato está em perigo, pois não se sabe nas mãos de quem a relatoria vai estar.

O governo Temer não esconde o alívio com o freio posto na Lava Jato pela morte de Teori. Com uma frieza inconcebível, o ministro Eliseu Padilha já admitiu, em entrevista à Rádio Guaíba, que a morte de Teori “vai fazer com que a gente tenha mais tempo para que delações sejam homologadas”. 

Mesmo que a redistribuição do processo seja a alternativa “menos pior” neste caso, ainda assim colocará a continuidade da Lava Jato em um destino nebuloso. Afinal são muitos interesses em jogo e poucos ministros do STF possuem a altivez de Teori. O próprio senador Romero Jucá, braço direito do governo, reconheceu, em áudio gravado com Sérgio Machado, que não havia caminhos para pressionar Teori a esvaziar a Lava Jato.

A Operação Lava Jato precisa continuar, processando e julgando todos os investigados. Ela não pode ser conhecida como uma operação que revelou os esquemas dos governos petistas, mas que não foi capaz de punir a corrupção dos políticos que derrubaram Dilma e agora estão no poder.

É preciso defender a continuidade da Lava Jato, doa a quem doer, e a divulgação imediata da delação da Odebrecht. Não podemos permitir que a impunidade e os conchavos devolvam para baixo do tapete tudo que já foi feito até agora."




(De Luciana Genro, advogada, dirigente do Psol, post intitulado "A Operação Lava Jato está em perigo", publicado no site Carta Maior - aqui).

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