sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

A EMENDA INEXORÁVEL


"A mensagem em concreto escrita na arquitetura da Praça dos Três mostra uma Câmara  aberta ao infinito, irreverente e às vezes irresponsável como o próprio povo, em contrapartida de um Senado circunspecto, um tanto fechado em si mesmo e consciente de suas responsabilidades para com a República. Nunca essa metáfora produzida pelo gênio de Niemeyer se revelou tão visível como agora. A Câmara esgotou sua quota de irresponsabilidade ao aprovar a emenda 241, chamada do teto ou da morte. O Senado terá agora de dar sua quota de responsabilidade para salvar a Nação.
É incrível como estamos tão perto da redenção quanto do abismo mais profundo. Nas análises que tenho feito nas últimas semanas e meses procurei mostrar à saciedade que temos um caminho, sim, para a superação da crise econômica e política, longe de precisar de dar o passo definitivo para cair no abismo. Somos uma economia estruturalmente forte, com um estoque de capital razoável, quase 400 bilhões em reservas internacionais, inflação relativamente baixa, uma imensa folga na dívida para financiar o investimento público e uma disciplinada força de trabalho louca para trabalhar.
Entretanto, por pura ideologia, este governo nos empurra para o abismo, e agora pretende ter o salvo conduto do Senado para liquidar a República. Claro que não é uma ideologia descolada do real. É a ideologia do Estado mínimo, cujos proponentes querem entregar todos os serviços públicos hoje destinados aos pobres para exploração privada e como fonte de lucro para os picaretas do capitalismo interno e internacional. Já para atender aos interesses dos privilegiados, notadamente da banca privada, querem o Estado máximo, como é o caso dos generosos empréstimos do BNDES para PPPs.
A emenda 55 precisa de 33 senadores para ser rejeitada. Se Deus mandar ao Senado, como mandou a Sodoma, dois anjos para verificarem a tendência dos votos da Casa, não é impossível que encontrem número correspondente de homens bons para a rejeição. Mas nos preparemos. Caso esse número não se verifique, seja pelo voto presente, seja por abstenção, então a ira do Senhor pode se transformar numa bomba atômica ainda pior que a da Odebrecht, e a nós, inocentes, só resta fugir do Senado como Lot fugiu de Sodoma, para não sermos alcançados pela ira de Deus e do povo.
No Senado, como no Brasil, há de tudo. Há gente bem informada e consciente, há gente manipulada, há corruptos, há ingênuos, há inclusive homens sábios. Contudo, não é possível saber como, entre essas categorias, se distribui o corpo dos senadores. Daí minha aposta em que a emenda da morte pode ser rejeitada. Inclusive porque mesmo entre corruptos há um valor inegociável: a vida. E a aprovação da emenda 55 significa expor o Brasil inteiro ao risco de vida pelas convulsões sociais, os atentados políticos, a guerra civil e a ditadura. Tudo por conta da manipulação pela mídia de grande parte da população brasileira."



(De José Carlos de Assis, post intitulado "Nas mãos do Senado a regeneração da República" - Aqui.
"Daí minha aposta em que a emenda da morte pode ser rejeitada. Inclusive porque mesmo entre corruptos há um valor inegociável: a vida. E a aprovação da emenda 55 significa expor o Brasil inteiro ao risco de vida pelas convulsões sociais, os atentados políticos, a guerra civil e a ditadura. Tudo por conta da manipulação pela mídia de grande parte da população brasileira."
Certamente, certamente. A maioria, porém, está convicta dos méritos da medida. A esperança, lamentável dizê-lo, é vã).

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