domingo, 13 de novembro de 2016

OS EUA, PERSPECTIVAS GLOBAIS (E UMA ATENTA OBSERVAÇÃO)


Financeirização e os gastos militares dos EUA

Por Bernardo Costa

Nassif faz uma análise que, de certo modo, se esquece de componentes importantes, particularmente as limitações de mudanças econômicas que os EUA podem ou estão dispostos a fazer.

Uma parte importante da análise relativa à financeirização no início da década de 70 se esquece os reais motivos desta. Os EUA planejaram no pós-guerra um sistema financeiro onde eles seriam líderes incontestes, sem possibilidade de concorrentes, e o dólar deles seria a moeda mundial. Mas isso ruiu com o tempo, seja num primeiro momento com a ascensão da Europa Ocidental e Japão, ou num segundo momento, com a China. Desde a década de 60 que os EUA têm déficits em suas transações com o exterior, muito também porque existe um déficit interno governamental por conta dos altos gastos militares. Isso através dos anos fez com que houvesse um ingresso de renda do resto do mundo aos EUA (particularmente da China nos últimos anos), o que os torna os maiores devedores mundiais. Isso, de certa maneira, tira um pouco da liberdade de ação deles, pois suas políticas econômicas precisam garantir esse fluxo de capitais do exterior para dentro.

Por outro lado, são justamente estes gastos militares que sustentam eles. A indústria militar é a base do emprego de qualidade nos EUA. Além disso, o contínuo fortalecimento militar fortalece sua moeda, por razões mais políticas que econômicas, mesmo com os demais setores da economia perdendo em competitividade. Em outras palavras, os EUA têm cada vez mais se tornado reféns de uma política que os empurra para intervenções militares no mundo, pois esta é a forma de se manterem hegemônicos, já que economicamente perderam importância (para a Ásia, principalmente).

Trump pode tentar fazer uma política nacionalista - economicamente -, mas isso não chega a ser exatamente uma novidade por aquelas terras. Nos EUA, todos os presidentes agem de maneira nacionalista, só muda o estilo de como agem. Mas as políticas sempre têm como eixo principal dois pontos: manutenção do dólar como moeda de reserva mundial e expansão comercial para conquista de novos mercados. Quem quer que seja o cara com a caneta, o discurso liberal só serve para abrir mercados externos a eles, de preferência aqueles pertencentes a países frágeis e que podem ser mais facilmente dominados, nunca o contrário. O eventual protecionismo que eles venham a adotar dificilmente vai chegar aqui, pois o discurso para nós será sempre o mesmo: vocês têm que se abrir para minha indústria conquistar seus mercados!! Assim como obviamente têm que ficar sob a minha esfera de influência financeira...

Com relação ao Brasil, a única saída que eu vejo é passar a sofrer uma influência cultural e política maior da China, já que este país é hoje quem tem o domínio do nosso comércio exterior. Mas nossas elites políticas continuam demasiadamente ligadas a Washington e tudo leva a crer que assim ficarão por um bom tempo, pois os laços de dominação cultural são mais difíceis de serem quebrados. (Fonte: Aqui).

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A China é o maior parceiro comercial do Brasil, mas os EUA ocupam a segunda posição. Ademais, Tio Sam, ao que se observa notadamente nos últimos tempos, está fortemente empenhado em mitigar a influência chinesa na América Latina - postura que conta com entusiástico apoio tupiniquim.

Relativamente aos gastos militares dos EUA, cumpre notar que as bilionárias dotações orçamentárias dificilmente virão a ser reduzidas: a fabricação de componentes encontra-se (deliberadamente) espalhada por vários estados, e cada um deles, por intermédio de seus representantes políticos e empresariais,  pressionarão no sentido de que suas fatias sejam preservadas.

NOTA

Transcrevemos, por valiosa, observação do leitor Aurélio Junior:

"Esta classificação de "complexo industrial militar" é um dos conceitos mais ultrapassados que ainda vicejam em discursos, teses e demais abobrinhas que rotineiramente são cometidas, por vários "entes sociais" fora do ramo, que estacionaram nos anos 90 do século passado.
   No contexto norte-americano é utilizado o acrônimo A & D (Aerospace and Defense), cujas varias indústrias, entidades, laboratórios, são representadas pela AIA (Aerospace Industries Association - "The voice of american aerospace & defense") - um organismo de lobby privado do qual um dos últimos associados recebidos foi o Facebook, e logo depois o Mr. Elon Musk (criador do PayPal) através da Tesla e da SpaceX.
   Em sua última demonstração, a AIA mostrou que este setor proporciona: 1,7 milhão de empregos, com renda média superior em 44% a outros do setor industrial, e no quesito exportações líquidas, foi em 2015 o maior dos Estados Unidos, auferindo US$ 143 Bilhões.
    As demandas da AIA foram apresentadas diretamente a Trump em julho passado, e continuam as mesmas  como explanadas na carta de felicitações a sua eleição (www.aia-aerospace.org/aia-congratules-president-elect-trump-and-the-115-.......).
     O defunto "complexo industrial militar" foi declarado morto por Willian Perry, quando secretário de defesa de Clinton, no famoso "The Last Supper". ( www.defensenews.com/articles/30-years-willian-perry-reshaping-the-industry ).
     O próximo nível da indústria de defesa e consequentemente dos orçamentos destinados a esta área, para que inclusive não apareçam exclusivamente nesta rubrica (defesa), será a terceirização de vários serviços e ramos das FFAA, como ocorre na experiência britânica - a mais avançada no momento -, onde até a manutenção de seu arsenal nuclear foi terceirizada (LM), como também os serviços de "busca e resgate" (SAR), através de contratos de longo prazo, assim como suas comunicações estratégicas (Paradigm), ou, como estamos para fazer aqui no Brasil, terceirizando a manutenção de nossos blindados pesados (Leopard e Gepard), para a unidade industrial da KMW em Santa Maria/RS."

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