quarta-feira, 13 de julho de 2016

A POLÍTICA EXTERNA NO MUNDO REAL E A NECESSÁRIA PREVALÊNCIA DOS INTERESSES DO PAÍS


A política externa no mundo real

Por André Araújo

Tenho aqui (no Jornal GGN/Luis Nassif Online) observado comentários extraordinariamente toscos sobre política externa, usando categorias dos anos 60 como "imperialismo ianque" sem atentar para as fundamentais mudanças de cenário na área de relações internacionais do cambiante mundo atual e seus conflitos e desafios, sem defesa, sem discurso e sem reação a agressões aos interesses do Estado nacional brasileiro em nome de ideologias simplórias. Assim foram feitos os achaques do Paraguai e da Bolívia para inteiramente à margem de solenes Tratados extorquirem muito mais pela energia elétrica de Itaipu e pelo gás de Tajira, ambas fontes de energia construídas pelo Brasil e não por eles próprios, aceitando sem negociação pagar muito mais pelos kilowatts e pelos metros cúbicos de gás, prejudicando enormemente a população e as indústrias brasileiras, em nome de um "companheirismo" que não existe na diplomacia.
O Governo do PT, esse mesmo que abraçou um bolivarianismo de vitrine sem qualquer objetivo prático, aceitou alegremente tutela americana sobre nossas estatais, processadas sem qualquer razão lógica pelo governo dos EUA, e assinou sem qualquer proteção ao interesse nacional ACORDOS DE COOPERAÇÃO JUDICIÁRIA que são uma intervenção na soberania brasileira muito mais graves do que a Quarta Frota navegando no Atlântico Sul.
Pergunto, quem redigiu, quem revisou, quem negociou esses acordos, especialmente o de 2003 com os EUA?
Pior, após a assinatura e a entrada em vigência, a única proteção ao Estado nacional brasileiro nesse Acordo é a necessidade de autorização do Ministro da Justiça do Brasil, chamada no acordo de AUTORIDADE CENTRAL, para qualquer ação do Ministério Público Federal e do Poder Judiciário junto ao Governo dos EUA.
Essa AUTORIDADE CENTRAL deu autorização para irem ao Departamento de Justiça operar em conjunto ações da Lava Jato contra empresas brasileiras? Minha intuição é que o Ministro sempre esteve por fora.
O que adianta a esquerda esbravejar com a mudança de rota de política externa se, no Governo do PT, se permitiu a ingerência do Departamento de Justiça - que é um braço da Casa Branca, não é autônomo como aqui -, dentro de processos judiciais brasileiros, a ponto de delatores brasileiros serem ouvidos aqui dentro e em Washington por promotores americanos? Como se chegou a esse ponto em um Governo do PT?
Isso é muito mais grave do que chanceler tirar sapato em aeroporto americano, um símbolo que a esquerda usa sem cessar e que não tem nenhuma importância, porque todos os chanceleres fazem o mesmo.
Quanto à grande estratégia de política externa, o Brasil no MUNDO REAL é um país do mundo ocidental, nossa política externa desde 1822 é relacionada ao bloco dos países ocidentais, nossos interesses estratégicos não têm sinergia com o mundo asiático,  são dimensões distintas das relações internacionais, então nossos aliados naturais estão dentro do bloco ocidental e não na Rússia, na China ou na Índia, nossa política externa, como já sabia o Barão do Rio Branco, está em conseguir o melhor lugar na mesa dos ocidentais e jamais seria de nos aliarmos a asiáticos para ir contra nossas raízes e nossa família ocidental, nossos parentes são eles e não chineses ou indianos.
Política externa é de Governo e não do Ministro, é uma imensa tolice atacar Serra como se ele fosse a política externa, ele não tem esse poder, assim como Raul Fernandes não fazia da cabeça dele a política externa do Governo Dutra ou Saraiva Guerreiro não fazia a política do Governo militar; chanceleres são sempre executores e não autores de política.
As discussões sobre política externa têm sempre que focar no possível e no real e não na utopia e na fantasia.
Os EUA são nossos aliados naturais desde a Independência, mas aliado natural não significa ser amigo ou irmão, diplomacia é a defesa do interesse nacional; países não têm amigos ou companheiros, países têm aliados por conveniência; DENTRO do campo ocidental nós precisamos defender nossos interesses, porque os EUA defendem os deles, mas por razões da natureza eles precisam de nós como aliados da mesma forma que nós precisamos deles, o que absolutamente não quer dizer que devemos fazer tudo o que eles pedem; o Acordo Judiciário é exatamente um dos casos a que deveríamos ter negado aceitação, é um Acordo que só beneficia a eles e sob essa CAPA do acordo permite uma inaceitável intromissão em nossa soberania, nossas empresas e nossos negócios. Por que o Governo do PT aceitou?  
Acordos são voluntários, aceita quem quer; quando não interessa não se aceita; por que os EUA não aceitaram a jurisdição do Tribunal Penal Internacional? Porque não interessa a eles ter americanos sob jurisdição que eles não controlam, é simples assim, o interesse nacional em primeiro lugar. (Fonte: Jornal GGN - aqui).

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As considerações do articulista certamente serão consideradas polêmicas por muitos - mas se revelam interessantes para reflexão e debate. Ora, se a parceria comercial do Brasil com a China, por ser mais rentável e estratégica, vai ao encontro dos interesses do Brasil - sem que isso comprometa a parceria comercial com os EUA, como há anos se observa -, por que razão o Brasil deveria repudiar os BRICS e se 'entregar' a Tio Sam, aderindo a alguma ALCA da vida?!

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