quarta-feira, 15 de junho de 2016

DA SÉRIE AS ANTOLÓGICAS AULAS INTERINAS


Como manter na ignorância um país inteirinho - diálogo com dona Coruja Sabichona

Por Sebastião Nunes

Dona Coruja Sabichona, doravante denominada Corjasab, organizou colóquio na República das Bananeiras para discutir assuntos importantes. Foram convidados o presidente interino (Presinter), o chefe da casa civil interino (Checavilint), o ministro da educação interino (Minieducint), o guardião da chave do cofre interino (Guachacoint), o chefe da torcida organizada interino (Cheforgint) e o diretor especial para assuntos estratégicos, políticos e sociais da Rede Bananão de Televisão (Direbetê), além dos aspones sempiternos 01, 02, 03, 04 e 05.
            Assim que chegaram ao Palácio Imperial de Bananópolis, puseram-se os convidados a provar diversos tipos de cachaça em copitos de folha de bananeira-nanica.
            Centro das atenções, dona Corjasab não queria perder tempo e começou:
            – Para que serve um Presinter?
            – Para bem governar o povo, respondeu o próprio Presinter.
            – Para ser ovacionado em praça pública, respondeu o Checavilint.
            – Para deseducar o povo, respondeu o Minieducint.
            – Para receber prefeitos em busca de ajuda, respondeu o Guachacoint.
            – Para recusar pedidos de ajuda de prefeitos, respondeu o Cheforgint.
            – Para desfrutar do poder e compartilhá-lo com os amigos, responderam a uma voz os aspones sempiternos 01, 02, 03, 04 e 05.
            Só o Direbetê ficou mudo. Mudo como um bacalhau.
DIÁLOGO BANANÔNICO
            Não gostou dona Corjasab. Um verdadeiro colóquio não acontece assim, com todos falando e opinando em cascata. É preciso um pouco de ordem no caos. Explicou aos convidados como deveriam se comportar, e recomeçou:

            – Para que serve um Presinter?
            – Para bem governar o povo, respondeu o Presinter.
            – E o que significa bem governar o povo?
            – Tirar com a mão esquerda o que foi dado com a direita.
            – Mas não será preciso também dar-lhe educação?
            – Certamente, quando for impossível deseducar.
            – E, dando-lhe educação, não é necessário dar-lhe a melhor educação possível?
            – Sim, a melhor possível, quando não se contentar com a pior.
            – Para dar-lhe a melhor, não será preciso dar-lhe os melhores professores?
            – Com certeza, não havendo outra saída.
            – Sendo assim, como escolher os melhores professores?
            – Através de concursos públicos.
COMPLICANDO O BANANÓLOGO
            Fez uma pausa dona Corjasab, provou um pouco de cachaça, e recomeçou:
            – Todos os cargos públicos são preenchidos através de concurso?
            – Nem todos, só os cargos desimportantes, respondeu o Presinter.
            – E como são preenchidos os cargos importantes?
            – Por indicação de padrinhos despudoradamente importantes.
            – E quem são esses padrinhos?
            – Políticos de alto escalão, juristas de alto escalão, empresários de alto coturno, enfim, figurões de altíssima extração. Só eles podem indicar.
            – Quer dizer, sem padrinho, só através de concurso público?
            – Exatamente.
            – Isso significa que os apadrinhados não participam de concurso público?
            – Exato, porque concurso público oferece baixa remuneração. Só em alguns casos, para inglês ver, existem concursos que oferecem alta remuneração, mas aí também os apadrinhados passam a perna nos desapadrinhados.
            – Se os professores são escolhidos através de concursos públicos, que oferecem remuneração baixa, como ter os melhores professores?
            – São aprovados os melhores dentre os piores, ou seja, dos que sobraram.
ENFEITANDO A BANANALOGIA
            Calou-se pensativa dona Corjasab. Refletia, os grandes olhos fixos. Moveu a cabeça de lá para cá, examinou atentamente a plateia, e continuou:
            – Sei, os melhores dentre os piores. Mas como se faz essa seleção ao contrário?
            – É muito simples. Os que têm padrinho, os que puderam estudar no exterior, os que vêm de famílias ricas e poderosas, esses ocupam os melhores cargos, em todas as instâncias, sejam públicas ou privadas, como se fosse herança, sendo que muitas vezes é herança mesmo. Para os demais sobra o resto: milhares de cargos inferiores.
            – Então os professores, escolhidos em concurso público, ganham sempre pouco pelo seu trabalho de educador?
            – Isso mesmo, já que não servem para cargos superiores.
            – Não servem ou não tiveram padrinhos?
            – Não servem porque têm educação de pobre e não tiveram padrinhos.
            – Nesse caso, não é possível proporcionar à população a melhor educação, já que os professores não têm padrinhos, (certo)?
            – Exato, pois não é possível que milhares de professores tenham padrinhos. Os que têm padrinho são poucos, uma minoria.
            – Assim, professores são apenas profissionais mal remunerados como a maioria da população, incluindo trocadores, balconistas, garis, pedreiros, garçons, operários, ambulantes, secretárias monoglotas, recepcionistas e tantos outros?
            – Exatamente. Os professores estão em um dos mais baixos patamares.
            – Devemos então concluir que os professores responsáveis por educar as crianças na República das Bananas são despreparados e mal remunerados?
            O Presinter olhou para os companheiros de simpósio e respondeu com prazer:
            – Creio que é assim mesmo, sempre foi assim mesmo.
            O Checavilint olhou para os companheiros e respondeu satisfeito:
            – Creio que é assim mesmo, sempre foi assim.
            O Minieducint olhou para os companheiros e respondeu com uma risadinha:
            – Creio que é assim mesmo, sempre foi.
            O Guachacoint olhou para os companheiros e respondeu feliz:
            – Creio que é assim mesmo.
            O Cheforgint olhou para os companheiros e respondeu satisfeito:
            – Creio que é assim.
            O Direbetê olhou para os companheiros e disse com voz doce:
            – Da educação na República das Bananas cuidamos nós.
            Os aspones sempiternos 01, 02, 03, 04 e 05 comemoraram alegremente:
            – Amém!!!
            Dona Corjasab lavou as mãos com sabão de banana em pó, deu por encerrado o simpósio e, voando pesadamente, foi cantar em outra freguesia. (Fonte: aqui).

................
Por falar em educação na República das Bananas...


convém destacar, acima, "old cartum" (anos 80) do grande SamPaulo - pinçado de seu notável blog, AQUI ...

... e arrematar com a informação abaixo:


Alexandre Frota tem primeira vitória no MEC sob Mendonça

Ministro interino da Educação, Mendonça Filho, paralisou as negociações de implementação da Base Nacional Curricular Comum, documento que vai determinar conteúdos mínimos que os alunos das 190 mil escolas do Brasil terão de aprender em cada etapa da educação básica e cuja segunda versão, elaborada com ampla mobilização e participação social, foi entregue no início de maio pelo então ministro da Educação, Aloizio Mercadante; a ideia, de acordo com Mendonça, seria "desideologizar" o debate e rever alguns conceitos que estavam norteando os trabalhos; informação de que o debate será revisto representa a primeira vitória do ator Alexandre Frota e do movimento Revoltados Online junto à gestão de Michel Temer (Aqui).

Parabéns ao emérito educador Frota.

2 comentários:

SamPaulo disse...

Muitíssimo obrigada e abraço, Dodó!
Maria Lucia

Dodó Macedo disse...

O mestre SamPaulo merece todas as honrarias, cara amiga.

Abraço.