sexta-feira, 22 de abril de 2016

PARA PROFESSOR DE DIREITO CONSTITUCIONAL, STF DEVERIA ANALISAR MÉRITO DO IMPEACHMENT

Em comentário feito ao post "A Justiça segundo Galeano e o golpe em curso", neste blog, afirmei: 
"...os ministros do STF consultados aludiram ao RITO PROCESSUAL ... Ocorre que a configuração do GOLPE reside não no RITO, mas no MÉRITO do pedido de impeachment: QUAL O CRIME DE RESPONSABILIDADE PRATICADO PELA PRESIDENTE? ... Até a presente data, porém, AS CONTAS RELATIVAS A 2015 ESTÃO PENDENTES DE JULGAMENTO POR PARTE DO TCU. Onde, portanto, está o crime de responsabilidade? E se o TCU, se e quando manifestar-se, considerar pertinentes os pareceres técnicos apresentados? Hoje, cabe indagar: Afinal, cadê o devido processo legal? Cadê a presunção de inocência? Cadê o crime de responsabilidade devidamente definido? Resumo da ópera: É  GOLPE, sim." (AQUI).
Eis que o Jornal GGN reproduz entrevista concedida à Folha de São Paulo por jurista que defende exatamente a POSSIBILIDADE/DEVER de o STF emitir juízo de valor sobre o mérito do impeachment - o que depõe contra a Globo e os ministros Toffoli, Celso de Mello e Gilmar Mendes, que sustentam publicamente haver o STF respaldado o impeachment de Dilma Rousseff, quando a verdade verdadeira é que a Magna Corte nem sequer se pronunciou até agora sobre o MÉRITO do pedido de impeachment.
A entrevista:
                   
                                      André Ramos Tavares e Ricardo Lewandowski

PARA ANDRÉ RAMOS TAVARES, STF DEVERIA ANALISAR MÉRITO DO IMPEACHMENT
Jornal GGN - A Folha de S. Paulo entrevistou o professor de direito constitucional da PUC-SP, André Ramos Tavares, a respeito do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ele levantou alguns pontos importantes e em sua avaliação, o STF deveria examinar o mérito da questão. “Ele pode com certeza atuar se a decisão final pelo impeachment não tiver base substancial na Constituição. A falta de provas leva à nulidade do processo”, disse. (...).
Da Folha de S. Paulo
Por Rodrigo Russo
Para André Ramos Tavares, 43, professor titular de direito econômico da USP e professor de direito constitucional na PUC­SP, o pedido pelo impeachment de Dilma usa "os mesmos argumentos do dia seguinte às eleições" e seu mérito pode, sim, ser apreciado pelo Supremo Tribunal Federal.
Em sua avaliação, um processo de impedimento que seja mera contagem de votos dos parlamentares não é o que a Constituição prevê e torna-­se, assim, um golpe, afirma o professor em entrevista à Folha, por telefone.
A opinião de Tavares contra o impeachment não vem de alinhamento automático com a esquerda. Pelo contrário, o professor e parecerista é inclusive autor de um livro em coautoria com o advogado Ives Gandra da Silva Martins e com o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, dois conhecidos críticos do governo.
Leia, abaixo os principais trechos da entrevista.
Qual a sua opinião sobre o impeachment?
Sou completamente contrário. Parece-­me que são os mesmos argumentos do dia seguinte às eleições. Parte da população está descontente, mas as eleições foram limpas. Considero a crise apenas um exercício de discordância política, não de que a presidente cometeu crimes. O impeachment requer posição técnica, e caminha tudo muito rápido, sem discutir, isso não é bom para o país.
Vemos uma situação de perplexidade. De um lado, uma oposição agressiva por um impeachment; de outro, um partido do governo mirando a Presidência sem o voto democrático. Essa não poderia ser a pauta do partido. Em que lugar do mundo é possível um governo que não é governo, um partido que rompe sem renunciar à Vice­-Presidência?
O pedido contra Dilma se baseia principalmente na questão das pedaladas fiscais. Qual a sua avaliação?
Em primeiro lugar, se o crime ocorreu no mandato anterior, a lei não permite que seja usado para fins de responsabilização política. Além disso, o correto para esse tipo de situação é o julgamento pela via da prestação de contas, em que o Tribunal de Contas da União faz análise técnica e emite parecer opinativo. O plenário do Congresso julga as contas em seguida.
Não pode haver confusão: as contas dela de 2015 ainda não foram julgadas. São coisas distintas, como um tem rito específico exclusivo previsto na Constituição, o impeachment é inadequado.
Muitos dizem que o impeachment é um golpe. O que o senhor acha disso?
Vou te responder de uma forma bem clara. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha [PMDB-­RJ], recentemente disse que desde 2009 o PMDB já sinalizava para rompimento com o PT. Oras, então não deveriam ter composto a chapa. Não é possível o partido sair sem o vice­-presidente renunciar. Aí, sim, configura-­se um golpe. Só há impeachment se não houver governo. O oportunismo é que gera um golpe. Temos problemas a resolver na legislação, não é possível ter uma chapa eleitoral que leve a esse cenário.
A alegação de golpe em andamento refere-­se ao que efetivamente está acontecendo, não ao instituto em si. Há uma inversão da defesa. Em geral presume-­se que o cidadão é inocente, o que no caso seria a presunção de legitimidade do governo eleito, e precisam ser produzidas provas contra ele, não ele provar sua inocência. Abriram um processo de impeachment sem investigações, sem provas. O governo sabe que não há elementos materiais para impeachment.
O Supremo Tribunal Federal poderia avaliar o mérito do processo de impeachment?
Na tomada de decisões pode haver vícios. O Supremo deveria examinar o mérito. Ele pode com certeza atuar se a decisão final pelo impeachment não tiver base substancial na Constituição. A falta de provas leva à nulidade do processo.
Não há ato que não possa ser levado ao STF se violar a Constituição. O tribunal já interveio em questões congressuais, chegou a intervir na edição de medidas provisórias, que cabiam ao Executivo. Temos um Estado mais consciente do Estado Constitucional. Vale para o processo ou para o mérito do impeachment, a qualquer tempo. O Judiciário vai desagradar alguma parte da população. Qualquer decisão terá leitura política, isso não é novidade, mas essa não é a razão pública da Constituição.
Qual seria a saída para a atual crise político-­jurídica?
Creio que a saída para a crise do impeachment seria o PMDB adotar de vez a legalidade. O que está aí corre o risco de ter governo sem base no Congresso. O partido tem uma responsabilidade muito grande com o país, e gostaria que isso fosse mais bem assumido. Se o vale-­tudo continuar, afetará o PMDB; nessa toada atual, as operações anticorrupção alcançarão todos os partidos.
A solução passa pelo PMDB e pelo Judiciário. O Judiciário não vai poder se eximir de tomar decisões desagradáveis para alguma parte da população, em conformidade com regras preestabelecidas.
Como o senhor analisa as decisões da operação Lava Jato até o momento?
A Operação Lava Jato é muito importante, no sentido de resgatar dinheiro público e identificar corruptos e corruptores. Erros vão acontecer e aconteceram, mas não é possível tolerar novas posturas que são o fim do Estado de Direito. A divulgação indevida de conversas, por exemplo, foi absolutamente ilegal.
É importante que a sociedade acompanhe o Judiciário, mas esse não pode criar novos poderes apoiado em legitimidade social. A Lava Jato aplica a lei com muito rigor. Pergunto: isso vai valer daqui para a frente para a sociedade como um todo ou só para casos de corrupção de um governo X? É preciso melhorar o direito, mas duvido que isso venha a ocorrer. (Aqui).

................
Resumindo. uma vez mais: É GOLPE, SIM.

Nenhum comentário: