sábado, 30 de abril de 2016

OPINANDO SOBRE TERRA ARRASADA, SIMULACROS E INCERTEZAS


"Há muito tempo escrevi um post aqui sobre o judiciário e Golem. Uma criatura que, criada para a defesa das comunidades, se esquece de suas funções e do inscrito em sua testa, "A verdade". Golem se encheu de poder e de protetor se tornou o algoz da comunidade que o criou. O post é antigo, mas já avisava que o golpe judiciário já havia acontecido. O judiciário, como Golem, já é poder. Mas aos poucos o mítico Golem se transforma em Hidra.

Aos poucos a face de Moro foi sendo trocada por Janot. Pois como Hidra existem muitas cabeças, a cabeça Gilmar, a cabeça Toffoli, a cabeça Fux, a cabeça Janot, mais recentemente o ressentido Fachin, e o professor de teoria jurídica Barroso. Que, após ter dado uma boa lição, resolveu aprovar todos os alunos, mesmo aquele que havia ido tão mal. No fundo da classe, aparentemente o fundão resiste na figura de um Marco (Aurélio) Mello, aquele que não é decano, e Lewandowski, que estava muito solitário.

O resto parece que se apraz em ser apenas o resto. Acompanhando sempre a maré, ou falando leviandades em ambientes diversos. Aliás leviandades seletivas. Existe um Teori, que como tal é quase uma abstração cuja realidade eu ainda não consegui desvendar. Capaz de rapidamente prender Delcídio, e lentamente, muito lentamente, e mais lentamente ainda se pronunciar contra Cunha, contra Moro, contra os quais transbordam, ou desbordam, as provas de ilícitos. 
Contra Cunha um pretenso cuidado para não extrapolar e interferir em um outro poder da República (não teve tantos pudores com Delcidio), mas rapidamente aceita e mantém liminares perpetradas por qualquer desclassificado, ou alguém altamente classificado como inimigo notório, e interfere diretamente no executivo.
Afinal a presidente não consegue sequer indicar um Ministro. Assim vão impossibilitando qualquer ação do executivo. Ao bel prazer e ao sabor dos fatos e movimentos da maré, uma das cabeças da hidra muda seus pareceres sempre que o momento político assim o desejar. Retiram assim os direitos políticos de um cidadão, Lula, contra quem a maior acusação é a posse de um pedalinho, em águas estrangeiras. E de não ter comprado um apartamento que insistem dizer que é dele.
Enquanto as provas da má-fé, da virulência e da obsessão se manifestam, o silêncio total dessa corte para o teatro imoral e obsceno que assistimos naquela sessão do impeachment. Uma sessão onde torturadores foram brindados, acusações, xingamentos, da mais profunda baixaria, foram proferidos contra uma autoridade estabelecida, a presidente da República.
Ataques homofóbicos e demonstrações criminosas de preconceitos foram não só divulgados pela imprensa, como tiveram desta mesma imprensa destaque, porque essa imprensa ataca através da boca de outros. Uma imprensa que continua a fazer propaganda do que há de mais baixo na nossa sociedade. Uma imprensa que por diversas vezes ofendeu a presidente da Republica mas trata respeitosamente o presidente da Câmara Eduardo Cunha, dando força a um condenável, jamais condenado.
Todo aquele circo não mereceu sequer uma censura por parte do nosso atual poder maior, o STF. Embora tenha se manifestado duramente contra uma conversa íntima vazada ilegalmente. Enquanto isto nos bastidores, as três cabeças siamesas, Gilmar, Toffoli e Fux, tramam descaradamente para separar o inseparável, preparando a absolvição de Temer, unidos ao famoso Cunha Trava Processos.
Em Curitiba ou em outra vara qualquer, as delações premiadas vão acumulando frases, (mas não provas) contra os mesmos. Frases que são cedidas a uma imprensa que envergonha a imprensa internacional. Nos vídeos para o grande público aparece um procurador do MP (a) perguntar e insistir para que um delator fale o nome de Lula. O delator afirma que Lula não tem nada a ver com a suposta propina, e o promotor insiste. O delator nega mais uma vez. E no jornal o apresentador afirma: Lula foi citado na Lava Jato. E Janot diz que isto pode ser anexado ao processo.
Se observarem bem, o nome de Lula foi trazido à tona pelo promotor. Mas isto é o que basta, pois a Hidra tem mais uma cabeça, a grande mídia. Uma grande mídia que jamais falou que apenas um percentual extremamente pequeno, aproximadamente quarenta, daquela câmara que votou pelo impeachment de alguém com 54 milhões de votos, foi eleito pelo povo. A maioria esmagadora daqueles deputados, lá estão por causa da legenda.
Enquanto isto Janot e Teori ficam, um soltando frases e pareceres contraditórios, e o outro, um silêncio profundo, sentado sobre os processos. E ambos continuam a criar mais e mais suspeitas em cima dos mesmos, alimentando, vejam só, o assassinato de reputações. Aquelas gravações são puramente ridículas, e jamais seriam aceitas em qualquer juízo. Mas a justiça finge que não entende nada de justiça, a imprensa também, e os que são contra querem apenas mais uma arma para matar petistas. (...).
No momento, como se não tivéssemos uma investigação durando anos, exatamente neste momento começam a surgir as delações contra Dilma. Tudo isto é uma opera bufa, dirigida por um diretor completamente medíocre e incompetente, mas que tem no momento poder para fazer o que quer, pois tem o único teatro da cidade. Não existe um pensar, não existe um roteiro, não existe uma estratégia, não existe uma tática, existe poder e falta de pudor. Não se tem coerência ou sequer um ardil. As coisas se sucedem conforme a conveniência. Não importa se incoerência houver, pois não se importam se quem pagou quis ouvir.
Na verdade negar a evidência de um aeroporto de Cláudio, não é ardil, não é estratégia, é pouca vergonha e poder. Um juiz que viola direitos de defesa, com escutas ilegais em escritórios de advocacia, que divulga gravações de conversas telefônicas da presidente da República não é um ardil, é pouca vergonha e poder. Membros da Justiça não têm pudor quando ignoram as leis, mas o fazem porque podem, não se tem pudor ao trazer a publico uma testemunha que depois se contradiz, claramente sob pressão. Não se tem pudor em mudar fatos e versões, não se tem pudor em agir imoralmente.
Chegamos ao ponto de criticar o republicanismo de alguns, mas o que vejo são poucas críticas à barbárie. A destruição de valores civilizatórios é a barbárie. Ver uma figura medíocre como Temer (...) se imaginando ainda nos anos 50, provavelmente sonhando com a marcha da família e propriedade. O cara parece que parou no tempo.
E o jornalista e a revista não têm o menor pudor. Como acreditar na capacidade intelectual e na capacidade de construir algo pelo país, quando o seu primeiro ato é voltado para uma coluna social de Ibrahim Sued. Se ser pensante fosse, não teria deixado o seu partido ficar na mão de um sociopata tramando para ter um poder que ele próprio jamais vai ter.
Pois talvez se torne presidente, mas Temer, como Aécio, nasceu para aparentar o que não é. São apenas figuras vazias, decorativas. Seu êxtase não vai ser presidir o país, mas sim assumir o cargo de presidente. Quem sabe não foi um pedido de sua adorável esposa. Talvez Dilma devesse tê-la convidado para um chá.
Enquanto isto se quisermos repensar este país, precisamos desatar o nó que tanto poder deu a um Golem. Que instituições são estas que criamos? Como permitimos que fossem tomadas por tais indivíduos? Como vai ser usual, irão culpar o povo brasileiro. Mas isto é só uma grande desculpa, pois tudo isto não ocorreu nas ruas; tudo isto só ocorreu porque a mesma velha casta se apropriou de nossas instituições porque sabem que lá reside o poder."





(De Frederico Firmo, post intitulado "De Golem a Hidra: uma ópera bufa", divulgado recentemente pelo Jornal GGN - aqui.

A indignação existe, é fato. Enquanto isso, o departamento de pesos e medidas observa a sua rotina de praxe. Conviria a muitos, não obstante, refletir sobre os motivos que determinaram a chegada a tal estado de coisas...

No mais, enquanto forças opositoras prosseguem em seu incansável empenho de boicotar toda e qualquer iniciativa do poder executivo - cujos projetos vêm sistematicamente encalhando na Câmara desde o início do segundo mandato da presidente, quase um ano e meio atrás -, a mídia, um braço forte de citadas forças, se encarrega de alardear os reflexos da recessão galopante sobre as contas públicas, o pib, o nível de emprego, manifestando, a cada abordagem, uma enorme "surpresa" diante da amarga realidade, como se ela própria não tivesse parcela de responsabilidade por tal situação. 

Convém lembrar que - raras, é verdade - autoridades como o ministro Marco Aurélio Mello alertaram para os efeitos perniciosos do referido boicote, dizendo expressamente que Dilma Rousseff vem, desde a sua posse, sendo impedida de governar, mas isso, evidentemente, não obtém repercussão).

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