terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

IMPRENSA: FATOS, VERSÕES E OMISSÕES


A senhora Lo Prete e o senhor Petrobrax

Por André Araújo

Dois comentários radiofônicos emblemáticos sobre o caso do apartamento do Guarujá e do sítio de Atibaia atribuídos a Lula. A competente jornalista Renata Lo Prete, comentando no seu horário de 6ª feira na CBN a nova fase da Lava Jato, diz que é extraordinária a importância dessa nova investigação, porque começa a ser desvendado o mundo das off shores. Por ser nova na casa a jornalista talvez não tenha sido informada de que a TV Globo Ltda. é antiga e importante cliente desse mundo das off shores: comprou por US$221 milhões a Empire Investment Group Ltd., endereço em Road Town, Ilhas Virgens Britânicas, P.O. Box 3340, mas também tem outras no Uruguai, Ilha da Madeira, Antilhas Holandesas, Holanda. Nesse caso da Empire, a off shore foi usada para compra de direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002, vendidos pela ISL suíça, braço mercantil da FIFA.

A remessa de 221 milhões de dólares gerou uma autuação fiscal da Receita Federal de R$615 milhões em 2006, processo esse que ainda está rolando e, pela simples passagem do tempo, deve estar em R$1,6 bilhão. Portanto o espanto da Lo Prete com o fenômeno das off shores que lavam dinheiro é como falar de corda em casa de enforcado.

Complementando os espantos dos bem pensantes, o jornalista Alexandre Machado ontem no seu horário De Volta para Casa na Rádio Cultura FM discutiu com o cientista político Aldo Fornazieri, que dizia que a Lava Jato está em declínio, citando como expressão desse declínio a importância que se deu a um bote de 4 mil Reais, ao que Machado - que quando Assessor de Marketing da Petrobras no Governo FHC pagou 780 mil Reais, hoje equivalentes a mais que o dobro, para um estúdio criar o nome PETROBRAX, dinheiro perdido porque não aprovado -, Machado ficou indignado e disse que absolutamente não, a Lava Jato está no seu apogeu, e teceu grandes elogios às investigações sobre o apartamento do Guarujá. Tucano matriculado, Machado jamais cogitou de uma investigação sobre a estranha compra por FHC, ao fim do mandato, de um apartamento de 450 metros quadrados na Rua Rio de Janeiro em Higienópolis, no Edifício Chopin, vendido por um banqueiro com altos negócios no tucanato (veja AQUI). Tampouco lhe pareceu merecer alguma investigação a compra por FHC e Sergio Motta da Fazenda Córrego da Ponte em Unaí (MG) por 2 mil dólares, quando o anterior proprietário tinha comprado a mesma por 140 mil dólares em 1991, fatos esses bem nebulosos e que mereciam uma investigação.

Nem ele e nem Ministério Público ou Polícia Federal ou Juiz entenderam que existia alguma coisa errada em um ex-Presidente adquirir tão valiosas propriedades, muito mais valiosas do que os bens mais prosaicos atribuídos ao casal Lula.

Bem entendido, não se diga que há algo de errado com as transações de FHC mas elas também são esquisitas.

Veja-se como jornalistas bem pensantes esquecem de olhar na própria casa o que tem para limpar e preferem se espantar com o lixo do vizinho; a vida realmente é muito curiosa. (Fonte: aqui).

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Lido o artigo, a conclusão: nada de novo no front. A mídia e seus comentaristas estão onde sempre estiveram. Opto, em decorrência, por transcrever comentário do leitor Joel Lima:

'Tenho o livro Trinta Anos Esta Noite, do  Paulo Francis. E ali ele fala como se deu o cerco a Getúlio, que acabou em seu suicídio. E mostra os dois jornalistas principais que estavam em trincheiras opostas: Lacerda, possesso em tirar Getúlio para poder chegar ao poder e poder fazer o que Getúlio fez quando ditador, e de outro Samuel Wainer, dono do Última Hora, que foi o único jornal a estar ao lado de Getúlio. E a ironia é que Wainer tinha tirado Lacerda do ostracismo quando lhe foi atribuída a fama de dedo-duro, trazendo-o ao jornalismo. Mas Lacerda culpou Wainer por ter feito Getúlio voltar ao xadrez político. E fez de tudo para destruir Wainer, seja falando que ele financiara seu jornal com dinheiro camarada do governo (como se nenhum gigante no Brasil não tivesse esse tratamento especial do governo - vide Globonews, que, se seguisse o que fala sobre a lei do mercado - quem não tem competência não se estabelece -, teria fechado as portas em 2003, pois estava quebrado), seja querendo provar que ele, Wainer, não nasceu no Brasil e a lei impedia que um estrangeiro fosse dono de jornal. Enfim, a história 60 anos depois se repete - o que é um mau sinal. Enfim, recomendo que leiam esse livro do Paulo Francis.'

Em tempo: a 'acusação' de Lacerda era de que Wainer teria nascido na Bielorússia, estando, pois, impedido de ser dono de jornal.

Errata: No comentário de Joel Lima, acima, onde se lê Globonews, deve-se ler Organizações Globo: o grupo contou, em 2003, com providencial ajuda estatal via BNDES, conforme, p. ex., pode-se ler AQUI.

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