domingo, 28 de fevereiro de 2016

BRASIL: ALTERNATIVA PARA A FASE POSTERIOR À PERDA GERAL DO GRAU DE INVESTIMENTO


A face cruel da recessão

Por André Araújo

Os economistas acadêmicos e os de mercado têm abordado o tema da recessão exclusivamente com análises quantitativas macro econômicas. Falta outra análise, a da recessão ao nível micro sobre as empresas, negócios e sociedade, sobre a vida das pessoas e sobre o funcionamento ou quebra das empresas.

A face mais cruel da recessão está no fato de que ela atinge mais rapidamente e mais profundamente os mais frágeis e os mais desprotegidos, tanto empresas como pessoas. Quem perde o emprego é o empregado menos experiente e menos qualificado, aquele que ainda está em formação, que está no primeiro emprego, que está começando a vida.

No lado empresarial, a recessão atinge em cheio as pequenas empresas, as lojas e comércios de bairros mais pobres, aqueles que se aventuraram em abrir o primeiro negócio e veem desfeitas as aspirações longamente sonhadas de ter o próprio negócio, levando junto todas as economias do próprio e muitas vezes da família.

A tragédia da recessão na sociedade é de tal magnitude que muitas vezes não vale o preço da democracia e sacrifica-se esta por uma solução na economia, falo pela experiência da História. Os regimes autoritários geralmente nascem no rastro de uma recessão, as pessoas desesperadas preferem qualquer coisa a ver a família passando necessidades, os estudos da filha interrompidos, o filho vagando pelas ruas, muitas vezes a perda da casa e do carro.

O combate à recessão é infinitamente mais importante do que o combate à inflação como meta de política econômica, dificilmente se pode acabar com a recessão e ao mesmo tempo controlar a inflação, como se pretende com a obtusa política monetária do Banco Central. Uma injeção de R$1 trilhão na economia, espaçados em dois anos, acabaria com a recessão, a inflação não iria explodir porque há folga na oferta de mão de obra e de todos os insumos, há imensa capacidade ociosa nas fábricas; se a inflação subir será pouca coisa e constituirá um módico preço a pagar para sair do atoleiro da recessão, que não pode continuar sob pena de convulsões sociais no horizonte.

Todos os riscos de perda de grau de investimento, de má avaliação do mercado financeiro internacional JÁ ACONTECERAM, não acontecem duas vezes, já pagamos o ônus da má economia e ainda estamos em profunda recessão crescente. É por isso que a política econômica não tem lógica de custo benefício, não se sabe a que visa.

Estamos sacrificando a população em um grau extraordinário para nada.  O sacrifício não trouxe nada, nem a curto, médio ou longo prazo. É uma política econômica inútil, porque o foco dela está errado, as metas são irreconciliáveis e inatingíveis e, se atingidas forem, não resolvem a recessão e seus efeitos.

1. Cortar  gastos correntes, por mais que isso seja necessário e deva ser feito, não é uma possibilidade real a curto prazo.

2. A meta de inflação não será atingida e se atingida nada resolve: inflação zero com a população sem emprego não traz nenhuma vantagem, se isso fosse possível atingir, tampouco se a meta for atingida melhora em alguma coisa a avaliação do Brasil no exterior.

3. O ajuste fiscal NÃO É A META importante agora, ela é importante como princípio, mas no incêndio deve-se pensar em apagar o fogo - o fogo é a recessão -, as demais metas ficam para depois; a recessão se resolve com expansão monetária, pior do que está não fica e pode melhorar muito rapidamente.

Onde usar a liquidez adicional: saneamento, moradias populares, estradas, linhas de transmissão de energia, hidrovias. Aliviar as finanças dos Estados, que estão perigosamente quebrados, com reflexos imediatos nos serviços.

É fantástico que estejamos seguindo uma politica ortodoxa ruim para que as agências de rating não nos rebaixem, MAS ELAS JÁ REBAIXARAM,  a política econômica continua visando agradar as agências que já nos picharam, o nível de avaliação do Brasil  nos jogou na lama; por que continuar o agrado ao mercado internacional que nos precificou como "economia lixo" se eles assim já nos veem? Já pagamos o preço da má fama, agora a meta deve ser outra. (Fonte: aqui).

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Enquanto isso, tem-se, de um lado, o Livre Mercado e seus entusiastas elitistas indignados e inconformados diante do fato de o Brasil insistir em preservar salário mínimo e programas sociais (Bolsa Família, Minha Casa...), beneficiando os 'inferiores' ('absurdo' inadmissível ao longo do tempo em que o 'outro lado' governou!).

De outro lado, seguem numa boa a SONEGAÇÃO FISCAL  - estimada em quinhentos bilhões de Reais por ano -, tratada de maneira quase 'casual' pela grande imprensa, cujos holofotes estão concentrados na Lava Jato, seara que lhe é bem mais 'interessante' - e os SUPERSALÁRIOS, engordados por benesses e penduricalhos abjetos, a exemplo do auxílio-moradia, "direito" concedido aos mais variados servidores públicos dos poderes legislativo e judiciário, valendo notar que PROJETO DE LEI governamental visando à sua regulamentação/moralização (artigo 37, da CF - teto remuneratório) tenta, a duras penas, aprovação na Câmara dos deputados - AQUI -. Sintomaticamente, a coluna Painel, da edição de hoje, 28, da Folha, traz notinha com o seguinte teor:

"LOBBY DA TOGA
A pressão de magistrados e procuradores empurrou para esta semana a votação do projeto de lei que impõe limites aos supersalários. Levantamentos em sites de transparência mostram remunerações superiores a R$ 200 mil por mês."      

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