domingo, 27 de setembro de 2015

O OLHO SELETIVO DA LAVA JATO

"Há um grande mérito na Lava Jato e uma grande interrogação.
O mérito foi o de ter, pela primeira vez, investigado uma das fontes centrais históricas do poder político brasileiro: as grandes empreiteiras de obras públicas.
A dúvida é o filtro político que impôs às investigações.
Para tentar entender:
1. A Lava Jato pretendia manter sob suas asas todos os inquéritos resultantes das delações negociadas até agora.
2. Há personagens centrais na Lava Jato: do lado dos beneficiários, gerentes e diretores da Petrobras e operadores do PT e do PMDB. Do lado dos pagadores, as empreiteiras.
3. A Lava Jato derivou para o setor elétrico, apurando os desvios da Eletronuclear. 
4. Ora, o que Petrobras e Eletrobras têm em comum, para permitir à Lava Jato avançar sobre o setor elétrico? As mesmas empreiteiras.
O ponto em comum que unifica tudo, portanto, são as empreiteiras, seu modo de operar, seus subornos e financiamentos de campanha.
Sendo assim, qual a razão da Lava Jato ter deixado de fora governos tucanos?
A maior contribuição da UTC foi para a campanha de Aécio Neves. A grande obra da UTC em Minas foi o Centro Administrativo. Em São Paulo, as mesmas empreiteiras participaram de obras do Rodoanel e das parcerias para administrar as estradas paulistas.
No entanto,  nenhum dos bravos delegados e procuradores (e) o imbatível juiz Sergio Moro tiveram a curiosidade de perguntar aos delatores sobre o financiamento à campanha de Aécio e para políticos paulistas.
Não há álibi técnico ou jurídico que possa justificar a desatenção do grupo em relação aos malfeitos dos réus com governos tucanos.
Na fase das investigações, especialmente ao colher os depoimentos dos réus e delatores, todos os temas relacionados às suspeitas de suborno por parte das empreiteiras são relevantes. Se surgirem indícios de cometimento de crimes em outras esferas, encaminha-se a denúncia para o STF - Supremo Tribunal Federal -, se for de réu com prerrogativa de foro) que decidirá se cabe um novo inquérito ou se a investigação será no bojo do mesmo.
Se a intenção é passar o país a limpo, tendo ao seu dispor pessoas dispostas a delatar, qual a razão da Lava Jato não ter aberto o leque para todos os partidos? A desculpa de não perder o foco não bate. Se não surgir outra Lava Jato, os segredos dos doleiros e delatores morrerão com eles, debaixo do nariz da tropa de 360 procuradores e técnicos que o MPF colocou à disposição.
Por tudo isso, pelo fato do Procurador Geral da República Rodrigo Janot ter poupado Aécio Neves das  denúncias do doleiro Alberto Yousseff sobre Furnas, de jamais ter tirado da gaveta o inquérito sobre a conta no paraíso fiscal de Liechtenstein, pelo fato de procuradores e delegados jamais terem se preocupado com a questão óbvia de investigar outros partidos políticos, não há a menor dúvida de que a Lava Jato tem lado. O mesmo lado de Gilmar Mendes.
Os bravos procuradores sequer se preocupam em justificar essa seletividade, como se o assunto não existisse.
Mas há um cadáver no meio da sala de jantar. E não haverá como escondê-lo para sempre. "




(De Luis Nassif, no Jornal GGN, post intitulado "A Lava Jato tem lado" - aqui.
A delação de Youssef sobre o candidato derrotado na eleição passada foi desconsiderada sob a alegação de que o processo Lava Jato dizia respeito à Petrobras, e o caso Furnas, a que o doleiro se referira, cuidava de outra história. Porém, tempos depois, os encarregados da Lava Jato incluíram a Eletronuclear no processo. Como assim? Por que Furnas, então, foi descartada? Tiveram de providenciar uma nova justificativa: a alegação de que havia, na Eletronuclear, propina originária de empreiteiras implicadas no escândalo Petrobras. Ora, se tais empreiteiras também realizaram transações com outras esferas estatais, incluindo estados peessedebistas - o que vai muito além de Furnas -, por que essa vertente deixou de ser explorada na Lava Jato?! Conclusão inevitável: seletividade, parcialidade total.
Neste blog, aliás, já abordamos o tema, tão logo o episódio Eletronuclear veio à tona. 
Eis a razão por que aludimos, de quando em quando, ao fato de que certos partidos políticos detêm o monopólio da virtude. Mas isso, evidentemente, não vem ao caso...).

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