sexta-feira, 7 de agosto de 2015

PEQUENA ABORDAGEM HISTÓRICA: A ASCENSÃO DO FASCISMO


Como os fascistas chegam ao poder

Por André Araújo

Renzo de Felice, professor de História da Universidade de Roma, falecido em 1997, é por unanimidade considerado o maior historiador do Fascismo italiano. Sua monumental biografia de Benito Mussolini, em 4 volumes e 6.000 páginas, se alinha com mais 8 livros, dos quais o mais importante é La Interpretazione del Fascismo. Para De Felice, o Fascismo é uma ideologia revolucionária e modernizadora da classe média com origem no iluminismo. De Felice era comunista histórico, rompeu com o PCI e entrou para o Partido Socialista.
Minha interpretação (não é a de De Felice) é alinhavada em certos princípios.
Ao contrário do que muitos pensam, o Fascismo não chega ao poder pela força das armas. O roteiro do Fascismo:
1-Um pequeno núcleo determinado imbuído da ideia salvacionista e messiânica produz ações impactantes e surpreendentes para mostrar força perante a opinião pública.
2.Esse pequeno núcleo não descansa, opera por "ondas" contínuas, sem intervalo e sem descanso, mostrando garras moralizadoras, para não dar tempo às forças contrárias de esboçar reação. Essas ondas vão em um crescendo de ousadia e audácia, deixando os opositores e os neutros surpreendidos a cada dia.
3.A audácia e a ousadia só são possíveis pela existência de um fator central: O Fascismo opera contra um regime desgastado, desorganizado, incapaz de reagir, após crises politicas sucessivas. Esse quadro de esgotamento do regime cujo poder se assalta ocorreu na Itália com o País arruinado pela Guerra Mundial; na Áustria (com Dolfuss) com um regime desnorteado pela perda do Império; na Romênia (com o Marechal Antonescu) com um Rei repelido pelo Pais; na Hungria (com o Almirante Horthy) pela perda de referência nacional com o desmoronamento do Império Austro-Húngaro. Em um único País o Fascismo chegou pelas armas e pelo golpe militar: na Espanha de Franco.
Em Portugal o Fascismo ascendeu sem luta, pela ruína financeira do Estado, que tornou possível convocar um modesto professor de economia para assumir o poder por 40 anos, criando seu próprio fascismo, a União Nacional.
Nos demais o grande elemento que favoreceu a ascensão do Fascismo foi a covardia de todas as estruturas do Estado. Covardia do Rei, do Parlamento, da cúpula do Judiciário, dos empresários. Todos ficaram apalermados e inertes com a ousadia do pequeno grupo determinado, messiânico e salvacionista, que se considerava o único grupo capaz de salvar o Pais, imbuído de uma missão em que eles acreditam ou fingem acreditar.
O Fascismo não precisou de força armada para tomar o Poder nesses países. Bastou a audácia. Mussolini liderou a Marcha sobre Roma com um punhado de arruaceiros. Meio batalhão do Exército liquidaria com o grupo em meia hora.
Mas quem daria a ordem de comando? Ninguém, pois todos se acovardaram. Os Fascistas são ousados e jogam com a sorte, como Hitler sabia que os aliados estavam acovardados de 36 a 39 e não reagiriam às suas investidas na Renânia, na Áustria, na Tchecoslováquia; só falhou na Polônia porque abusou da sorte, falhou porque não acreditava, até o último instante, que a Inglaterra reagiria e, com a invasão da Polônia, se iniciasse uma nova guerra mundial.
Na Alemanha, onde um desdobramento do Fascismo, mais agressivo e violento, chegou ao poder em eleições diretas, a audácia veio depois, com Hitler em pouco tempo rompendo a Constituição de Weimar para se tornar ditador.
O Fascismo é um movimento no início moralizador e de classe média. A corrupção inevitável vem depois. No começo veio para purificar as instituições, prender os corruptos, modernizar o País. Depois se torna ditadura e cria sua própria corrupção, afastando a corrupção do antigo regime.
De Felice é um Historiador visionário porque decifra o Fascismo em dois ângulos: como História de uma época e como Ideologia Salvacionista. Nesta segunda visão, se aplica a qualquer tempo, pois o Fascismo é uma ideologia atemporal. (Fonte: aqui).

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