domingo, 23 de agosto de 2015

NO CLIMA DOS 50 ANOS DA JOVEM GUARDA


Obras de Roberto e Erasmo legitimam a Jovem Guarda semeada há 50 anos

Por Mauro Ferreira

Antes de Elvis Presley (1935 - 1977) acender a chama do rock'n'roll nos anos 1950 podia até haver nada, como entendeu e sentenciou John Lennon (1940 - 1980) em frase de efeito, mas o fato é que - pioneirismo da geração de Elvis à parte - o universo pop começou realmente a ser construído e solidificado na primeira metade dos anos 1960 com a explosão mundial do grupo inglês The Beatles. Foi no rastro da Beatlemania que a Jovem Guarda - o primeiro movimento de música pop do Brasil - foi semeada há exatos 50 anos, na tarde dominical de 22 de agosto de 1965, quando a TV Record estreou o programa Jovem Guarda sob o comando de Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. A adesão da juventude ao programa e a consequente consagração de Roberto Carlos - que já vinha numa escala ascendente de sucesso desde 1964 - com o lançamento do rock 'Quero que vá tudo pro inferno' (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1965), carro-chefe de seu álbum estrategicamente intitulado Jovem Guarda (CBS, 1965), detonou a explosão do movimento. 

A Jovem Guarda criou ídolos, ditou modas, sentenciou costumes e introduziu a guitarra elétrica na música brasileira para desespero da purista ala nacionalista que defendia uma música brasileira imune às influências do pop que dominava o mundo no embalo do iê-iê-iê. Mas a Jovem Guarda passou, embora ainda ecoe na canção popular brasileira, legitimada pelos cancioneiros de Roberto Carlos e Erasmo Carlos e pela força perene de eventuais canções românticas de lavra alheia como 'Devolva-me' (Renato Barros e Lilian Knapp, 1966) - balada que toda a geração anos 2000 conheceu na voz de Adriana Calcanhotto - e 'Nossa canção' (Luiz Ayrão, 1966). Decorridos 50 anos da sua explosão, analisada sob a perspectiva do tempo, a Jovem Guarda legou para a posteridade dois artistas geniais. Tanto que Roberto Carlos e Erasmo Carlos foram os únicos a manter real relevância artística após o fim desse movimento pautado por um rebeldia ingênua e apolítica que provocou revoluções mais na área comportamental do que social. 

Entronizado no posto de Rei da juventude, Roberto soube fazer a transição de forma exemplar para o mundo adulto, a partir de 1968, e se tornou na década de 1970 o Rei da canção popular brasileira, com vendagens astronômicas de seus álbuns anuais. Mesmo sem o mesmo sucesso comercial do parceiro, Erasmo manteve acesa a chama do rock, mas experimentou outros ritmos, também sendo entronizado como um dos reis do universo pop brasileiro (e o tempo fez mais bem à música de Erasmo do que à de Roberto). Os demais artistas - de repertórios bastante irregulares, calcados em hits eventuais, não raro produzidos a partir de versões de baladas e rocks estrangeiros - migraram para o brega ou para o sertanejo. Nem mesmo Wanderléa, que chegou a lançar alguns álbuns antenados ao longo dos anos 1970, conseguiu manter o pique criativo e se desvincular do cancioneiro geralmente pop e pueril da Jovem Guarda. 

Roberto e Erasmo foram os gênios, os grandes protagonistas do movimento que se torna cinquentenário a partir deste mês de agosto de 2015. Houve importantes coadjuvantes entre cantores (Eduardo Araújo, Jerry Adriani, Wanderley Cardoso), cantoras (Wanderléa, sobretudo e sobretodas, e Martinha), duplas (Leno & Lilian, Os Vips) e compositores (Carlos Imperial, creditado com parceiro de Eduardo Araújo em 'Vem quente que eu estou fervendo', sucesso de Erasmo em 1967). Mas quem deu consistência ao som da Jovem Guarda foram os discos,  as músicas e as personalidades carismáticas e cúmplices de Roberto Carlos e Erasmo Carlos. (Fonte: aqui).

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