terça-feira, 31 de março de 2015

A CRISE DE 2008 E AS RAZÕES DE ESTADO DOS EUA


A crise de 2008: como Washington salvou Wall Street

Por Motta Araújo

A crise financeira de 2008 foi produzida por ganância extrema e falta de escrúpulos de grandes firmas do mercado financeiro. A Goldman Sachs chegou ao cúmulo de vender centenas de bilhões de dólares de títulos sub-prime e depois de limpar seu estoque passou a apostar na baixa desses títulos em que ela mesmo tinha inventado. Com a mega crise na rua o que fez o Governo americano?

De forma ultra rápida e sem vacilações o Presidente (George Bush) assinou um decreto em 3 de outubro de 2008 colocando à disposição das empresas financeiras e industriais SETECENTOS BILHÕES DE DÓLARES do Tesouro; o dinheiro saía em 24 horas depois de solicitado. Grandes empresas industriais, como a General Motors, receberam o que precisaram: só a GM 50 bilhões de dólares; seguradoras irresponsáveis como a AIG, que vendia "credit swaps" (uma espécie de seguro de crédito dos sub-primes), foram salvas por cheques gigantescos entregues sem burocracia na boca do caixa; a AIG recebeu 75 bilhões de dólares.

No total, o Tesouro desembolsou US$ 426,4 bilhões até o dia do encerramento do programa, de nome TARP (em português  Programa de Resgate de Ativos Problemáticos). Em 19 de dezembro de 2014 o Tesouro recebeu de volta US$ 441,7 bilhões, quer dizer, teve lucro na devolução.

Quanto aos executivos malandros, nenhum foi sequer processado. O executivo-chefe do Lehman Brothers, banco que quebrou (foi o único) no ano da quebra (do sistema financeiro norte-americano), recebeu 65 milhões de dólares de bônus.

A malandragem gerou ganhos de mais de 100 bilhões de dólares para um grupo de especuladores e executivos safados; perto disso o caso Petrobras é dinheiro de lanche para o motorista.

Como e por que Washington agiu assim?  Deixou a ladroagem sair ilesa MAS salvou a economia. Se fizesse o contrário, prendesse todo mundo e deixasse a economia afundar, até hoje os EUA estariam em crise profunda.

É o modelo americano de governança, por isso eles levam tombos e levantam rápido, OLHAM PARA FRENTE E NÃO PARA TRÁS, acham que a vingança não dá dividendos. Nós nos orgulhamos de nossa origem lusitana, o mais importante é queimar a bruxa na fogueira do que fazer escolas para que ninguém mais acredite em bruxas. (Fonte: aqui).

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O tema em foco foi objeto deste blog inúmeras vezes, e em todas elas foi criticado o tratamento oferecido pelo governo Bush a bancos e financeiras responsáveis pelo desastre mundial 2008. O argumento das autoridades americanas foi o seguinte: as corporações eram 'grandes demais para quebrar'. Era o chamado risco sistêmico, ou seja, se elas quebrassem, o sistema como um todo poderia fracassar, e os EUA irem para o buraco. Isso foi apontado neste blog, mas encarado como fato altamente contraditório, visto que, ao final, os 'bandidos' iriam ser premiados, como foram. A avaliação feita por Motta Araújo vai em sentido diferente - e, admitimos, sensato: a ladroagem saiu ilesa (comparando ao que poderia ter sido feito, se se tivesse partido para a radicalização, como querem, p. ex., o MPF e o Judiciário brasileiros relativamente às empreiteiras), mas a economia foi salva.

E convém notar, por último, que os acordos de leniência cogitados por AGU, CGU e outras instituições não permitem que culpados saiam ilesos: eles teriam de pagar pesadíssimas multas e se submeter a rigoroso e restritivo código de conduta.

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