quinta-feira, 21 de agosto de 2014

SOBRE O SUS E SUA IMAGEM


"Para confrontar a presidente e candidata Dilma Rousseff, que, na entrevista ao Jornal Nacional, ousou replicar as acusações da bancada, a Globo requentou a pesquisa já divulgada pelo Datafolha há alguns dias sobre a saúde pública e privada no Brasil. Mas descobriu números que não gostaria de noticiar e jogou estas informações para o pé da matéria: "Para os entrevistados que disseram ter utilizado algum serviço do SUS, 26% consideram a qualidade do atendimento como ruim ou péssima; 44% avaliam como regular; e 30% consideram a qualidade boa ou excelente".

Percebe-se que a avaliação é de quem usou o SUS. O que a Globo fez: misturou alguns dados para dar impressão de que 93% desaprovam o sistema. Ou mais especificamente:

1. Considerou alguma insatisfação como insatisfação total
2. Não discriminou dados de saúde pública e privada
3. Enfatizou a soma daqueles que consideram o sistema com "ruim" ou "péssimo" com os que o consideram "regular".
4. Não diferenciou a opinião daqueles que usam o sistema de atendimento em postos e hospitais da opinião daqueles que não o utilizam para estes fins.

Para acentuar "a má avaliação" sobre o SUS, a Globo contou com depoimentos de representantes da APM (Associação Paulista de Medicina) e do CFM (Conselho Federal de Medicina) que utilizaram-se de "retórica da vingança" contra o Governo. É bom lembrar que estas entidades foram totalmente contra a vinda de médicos do exterior para atender pessoas no interior e nas periferias.
Um dos entrevistados chegou a afirmar que "é o pior momento do sistema de saúde em 40 anos" de profissão. O que é mentira, já que o SUS tem pouco mais de 25 anos.

Emissora e entidades sonegam outras informações
Pior que produzir matéria com fins eleitorais, no entanto, é o que veem fazendo as entidades e a grande imprensa contra o Sistema Único de Saúde. Podemos elencar algumas informações que poderiam servir de base para a avaliação da população brasileira.

O que a Globo, a APM e o CRM escondem da população:

1. Que a responsabilidade do SUS é compartilhada entre municípios, estados, Distrito Federal e União.

2. Que a atenção básica, por exigir adequação a realidades locais, pesa mais sobre a gestão dos municípios.

3. Que o SUS, que atende 100% da população, conta com pouco mais do dobro da receita das empresas de saúde privada, que atendem 25%.

4. Que, embora as empresas privadas tenham quase o dobro da receita da Saúde Pública por habitante, ainda assim assistem a um aumento de 400% no número de reclamações em dez anos (as críticas ao setor privado foram ocultadas na pesquisa).

5. Que este número não aparece na mídia, porque estas empresas são grandes anunciantes.

6. Que programas do SUS são bem avaliados pela população: Farmácia Popular, vacinações e SAMU, etc.

7. Que todo mundo usa o SUS, embora não saiba (Campanhas de vacinação, por exemplo).

8. Que quando se diz que a saúde de SP é a melhor do país, se está dizendo apenas que o SUS de SP é o melhor do país, embora seja mentira. Estados do Sul, Distrito Federal e até Minas Gerais são mais bem avaliados.

9. Que conquistas do SUS, como redução da mortalidade infantil e maternal, combate a AIDS, campanhas de vacinação, etc, são reconhecidas em todo o mundo por agências internacionais.

10. Que a isenção fiscal, com dedução de gastos de saúde no imposto de renda, retira dinheiro da saúde pública

11. Que nenhum país com mais de 60 milhões de pessoas (Inglaterra ou França) ousou ter um plano universal e gratuito (ou seja, sem nenhuma forma de co-participação financeira ou desconto dos salários)

12. Que a participação social é um princípio do SUS. E portanto a população mais do que usuária poderia ser motivada a participar de conselhos municipais e estaduais.

13. Que o balanço da saúde pública no Brasil de agora é melhor que há mais de 25 anos pelo simples fato de que não havia saúde universal e gratuito. E isso foi destacado recentemente por um relatório do Banco Mundial.

14. Que, se não fosse o sistema de ressarcimento, seu plano de saúde seria mais caro.

15. Que, em tratamentos como diálise, o plano de saúde não garante muito mais que o quarto. O resto é responsabilidade pública, embora o plano não diga.

16.Que o Ministério da Saúde não faz mais campanhas porque tem que pagar pelo espaço ocupado em televisão, que, no entanto, é uma concessão pública.

17. Que hospital municipal é de responsabilidade, pasmem, municipal (controle e gerência), estadual é do estado, e federal é da União.

18. Que os números jogados no pé da matéria apontam para uma saúde "minimamente razoável" (ora, se 74% concordam que é de regular a bom, então é minimamente razoável).

19. Que os sistemas universais e gratuitos de países modelos como França e Inglaterra contam com três vezes mais recursos per capita que o SUS, simplesmente porque são países como esta proporcionalidade de PIB per capita.

20. Que vários tipos de transplante estão com a fila zerada ou quase zerada

21. Que existem hospitais de referência no SUS, como a rede Sarah, o Inca, e o Hospital de Barretos para o câncer.

22. Que, ao fazer campanha contra a CPMF, a mídia contribuiu para reduzir o financiamento do sistema. Bastava lutar pela vinculação da receita, por meio de uma emenda constitucional.

23. Que, ao sonegar milhões em impostos, como já comprovado, a empresa está prejudicando também a receita para a saúde.

24. Que tudo acima já deveria ser de conhecimento da população, se a Globo se comportasse, dentro do jornalismo, como uma emissora séria."



(De Weden, no Jornal GGN, post intitulado "SUS é bom para 30% dos usuários, regular para 44% e ruim para 26%" - aqui.
As entidades médicas acima referidas, que ora se empenham ao máximo em reforçar a oposição da Globo ao SUS, me parecem, digamos, comprometidas, uma vez que o até aqui bemsucedido Programa Mais Médicos - que aquelas entidades abominam - vem se revelando medida eficaz, para satisfação das populações de centenas e centenas de municípios Brasil afora. Parece evidente que a opinião de tais entidades médicas, constrangidas pelos fatos, seja invariavelmente contrária a quaisquer programas e iniciativas do governo federal...).

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