segunda-feira, 4 de agosto de 2014

ESPERNEIO DIVERSIONISTA


"O “novo escândalo” da Veja, sobre suposto vazamento de perguntas — que de qualquer forma seriam tornadas públicas — aos que foram ouvidos na CPI da Petrobras me parece uma manobra diversionista para mudar de assunto. Tirar o noticiário de Cláudio e Montezuma e trazer Dilma Rousseff mais uma vez para o domínio absoluto das manchetes.

Quando eu era repórter da TV Globo, em 2005, antecedendo minha primeira cobertura de eleições presidenciais no Brasil — havia morado quase duas décadas nos Estados Unidos –, uma investigação que fizemos sobre caixa 2 em Goiás acabou em uma das CPIs que trabalhavam simultaneamente em Brasília.

Vi com meus próprios olhos uma importante jornalista da Globo, de alta patente, que me ciceroneava em um ambiente desconhecido, visitando gabinetes de deputados e senadores para troca de informações. No do então deputado ACM Neto, que participaria do depoimento do homem investigado por nós, houve até entrega de documentos e sugestão de perguntas. Eu vi isso acontecer e, francamente, não me espantei.

Se o objetivo de uma CPI é esclarecer os fatos, não há perguntas, nem assuntos secretos. Os depoentes devem trazer todos os esclarecimentos que forem necessários à opinião pública. A existência de parlamentares de diferentes correntes políticas é garantia de que teremos todo tipo de pergunta, das “levantadas de bola” às “pegadinhas”, das críticas às bajulatórias. Bancadas inteiras combinam estratégias. Não há motivo para guardar nenhuma informação em sigilo, se se pretende de fato esclarecer o assunto.

Qual é o problema de perguntas serem organizadas para facilitar os esclarecimentos do depoente? Isso não significa que ele vá responder apenas àquelas perguntas, já que a oposição estará presente. O problema está nas mentiras do depoente, não nas perguntas feitas a ele. Não há nada de errado quando um governo tenta vender à opinião pública sua versão dos fatos, desde que a oposição possa, igualmente, fazê-lo. Vamos combinar que não falta espaço na mídia à oposição brasileira, certo?

Portanto, trata-se de uma denúncia tola, transformada em manchete por uma gravação subterrânea, vendida como “comprometedora”. (...)."





(Jornalista Luiz Carlos Azenha, em seu blog, post intitulado "'Denúncia' de Veja, repercutida em 4 minutos e 42 segundos no Jornal Nacional, faz lembrar ofensiva midiática de 2006".

A matéria objeto da CPI é notoriamente pública. A imprensa já divulgou detalhadas informações sobre o tema, de modo que as perguntas a serem formuladas eram previsíveis, e, detalhe crucial, a oposição também tem/teria o direito de formulá-las na amplitude que entendesse cabível e, evidentemente, sem o prévio conhecimento dos depoentes.

Convém lembrar que o caso Pasadena - com as informações levantadas pela Polícia Federal - já foi objeto de análise pelo Tribunal de Contas da União, que responsabilizou onze diretores da Petrobras, e isentou a Presidente da República.

De qualquer modo, aguardemos os desdobramentos, inclusive quanto ao caso dos aeroportos mineiros).

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