domingo, 3 de agosto de 2014

DE COMO GAZA VIROU UM RUÍDO DE FUNDO


Joe Sacco: Ocidente se acostumou às imagens de Gaza

Por Rodolfo Bartolini

Um ruído de fundo, com vidas sendo esmagadas, ao qual o Ocidente se acostumou. É assim que o premiado cartunista e jornalista Joe Sacco, autor das reportagens em quadrinhos “Palestina” e “Notas de Gaza”, se refere às imagens do atual conflito entre israelenses e palestinos.

O autor maltês, de 53 anos, tornou-se em 1996 uma lenda no mundo dos quadrinhos – e uma fonte respeitada sobre o conflito no Oriente Médio – ao inaugurar um novo gênero com a publicação de “Palestina”, volume que mescla trabalho de reportagem jornalística com a narrativa típica dos gibis.

Sacco esteve na Cisjordânia e em Gaza entre dezembro de 1991 e 1992, colhendo o material que se transformaria em uma visão contundente da vida nos territórios ocupados por israelenses.

Em uma das passagens mais marcantes da graphic novel, ele observa o confronto de crianças palestinas, munidas de pedras, que atacam soldados israelenses, e fica em pânico com a situação, fugindo trêmulo do local em um táxi.


Treze anos depois, em 2009, Sacco voltaria ao tema do conflito com “Notas em Gaza”, em que investiga o massacre de 275 palestinos por tropas israelenses na cidade de Khan Younis e o assassinato de mais 111 palestinos em Rafah, ambos ocorridos em 1956.

Diante do capítulo atual do sangrento conflito, que desde o dia 8 de julho já deixou mais de 1.600 palestinos mortos, em sua ampla maioria civis, o Portal da Band conversou por e-mail com o quadrinista, que vive nos EUA, sobre o impacto das imagens da guerra no Ocidente.

Joe conta que, quando vê o registro imagético da guerra, “se entristece profundamente, preocupado com as pessoas que conhece e que não conhece” em Gaza. Ele alerta, porém, que o Ocidente se acostumou às cenas de horror que vêm da região.

“Essas imagens continuam chegando de Gaza, e do Oriente Médio em geral, como um relógio. Infelizmente, nós que estamos de fora aprendemos a viver com essas fotos e filmagens. É só um ruído de fundo, mas, claro, as vidas das pessoas estão sendo esmagadas”, lamenta.

Sacco não vê nenhuma conclusão positiva em um futuro próximo. “Ambos os lados querem paz, mas o que isso significa exatamente?”, questiona. “No caso israelense, isso parece significar tranquilidade. Eles querem continuar suas vidas e não os culpo por isso – é o que todo ser humano quer. Mas enquanto ocuparem a terra de outros e a mantiverem, e enquanto, junto com o Egito, bloquearem Gaza, não haverá tranquilidade”, analisa.

“A respeito do futuro, não sei responder se os Israelenses vão devolver a terra que tomaram na Cisjordânia ou se os palestinos irão perdoá-los. Quanto mais tempo durar a situação, mais difícil será resolvê-la”, acrescenta.

As dúvidas de Joe Sacco sobre o resultado do conflito também se refletem na possibilidade de uma nova incursão ao tema, com a criação de uma nova reportagem em quadrinhos. “Ainda não tenho certeza. Obviamente o que está acontecendo em Gaza tem a minha atenção.”  (Fonte: aqui).

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