terça-feira, 29 de julho de 2014

DILMA: SOBRE UMA PARTE DA SABATINA

              À esquerda, a manchete da Folha em 12 de junho.

Para Dilma, pessimismo com economia é igual à Copa: mídia ajudou a criar

A presidente Dilma Rousseff (PT) comparou o pessimismo disseminado em relação à política econômica de seu governo ao que aconteceu no período pré-Copa do Mundo no Brasil. Na visão da petista, mais do que análises de especialistas, endossou o sentimento negativista a cobertura encampada pelos grandes grupos de comunicação.

A avaliação de Dilma foi feita a jornalistas da Folha de S. Paulo, UOL, Joven Pan e SBT, durante sabatina promovida no Palácio do Planalto na tarde dessa segunda-feira (28). A candidata a reeleição chegou a citar, pedindo desculpas pela saia-justa, uma reportagem da Folha, na qual o jornal sugere que o mundial de futebol teria mais condições de ter sucesso dentro de campo que fora dele.

“Há no Brasil um jogo de pessimismo inadmissível, veja por quê: vamos discutir a Copa entre nós. Eu lembro, e me desculpa dizer isso aqui, que no dia que começou a Copa, vocês botaram assim no jornal, que a Copa está resolvida nos gramados, e não está resolvida de forma alguma fora dos gramados.

Houve quem dissesse que não teríamos aeroportos, organização, que estávamos aquém de tudo, que deveríamos ter vergonha do país. Não teríamos estádios, aeroporto decentes, estrutura de comunicação. Que seria um desastre. Que além de todo o caos, teria uma epidemia de dengue. Isso é uma conspiração contra o país. Isso é muito grave”, disse a presidente, se dirigindo, em parte, ao jornalista da Folha, Ricardo Balthazar, editor do caderno Poder. “Está havendo o mesmo pessimismo que ocorreu com a Copa, com a economia brasileira”, pontuou.

Durante todo o primeiro bloco da sabatina, Dilma foi questionada sobre os motivos pelos quais a economia brasileira não tem crescido conforme o esperado. Na maior parte das perguntas, pautas utilizadas pelos adversários políticos da petista foram colocadas à mesa, como inflação perto do teto da meta, aumento do desemprego nos setores que servem à indústria, risco de colapso na área energética, possibilidade de uma crise cambial, entre outros pontos.

Crise internacional
Os jornalistas também questionaram se Dilma mudou de discurso e usa a crise internacional de 2008 para minimizar a puxada de freio no crescimento econômico nacional. A presidente rebateu as questões afirmando que quando o assunto é a política econômica de seu governo, há “dois pesos e duas medidas”. “A inflação não está descontrolada. Ela está no centro da banda, no teto. Nós vamos ficar nesse teto. O Brasil só ficou quatro anos no centro da meta”, comentou, após comparar o índice atual à inflação deixada para Lula em 2003, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), de 12,5%.

Para a chefe do Executivo, deveria receber destaque que “estamos enfrentando de forma corajosa a maior e mais grave crise econômica que o mundo enfrenta desde 2008.” Para ela, o presidente Lula não poderia prever os impactos futuros desse fenômeno quando afirmava que a crise era, para o Brasil, há alguns anos, uma “marolinha”.

“Todos nós erramos porque ninguém tinha noção ou controle de como ficaria o sistema financeiro internacional. Nós todos tivemos um trabalho danado para sair da crise. E a nossa política não foi de desempregar, arrochar salário e fazer com que população pagasse o pato. Nós impedimos isso. Nos minimizamos esses efeitos”, observou Dilma.

Auto-crítica
Incitada a responder quais correções faria na economia, após, claro, ser lembrada de que até Lula disse que mudanças são necessárias, Dilma evitou fazer uma auto-crítica, e tangenciou o apontamento do ex-presidente dando exemplos de que nem sempre “correções de rota” significa admitir equívocos.
Ela citou o Bolsa Família como um projeto do governo Lula que passou por transformações nos últimos anos, para que mais “22 milhões de pessoas pudessem sair da miséria. (...) Isso é uma mudança, não uma auto-crítica do passado”. O segundo exemplo foi a revisão do regime de concessão de rodovias.

Santander
A presidente também foi questionada sobre o último episódio envolvendo o Banco Santander. A companhia enviou carta a clientes de alta renda alegando que caso Dilma seja reeleita em outubro próximo, a economia nacional teria motivos para definhar. A repercussão da investida do Santander contra Dilma resultou na demissão dos envolvidos e no envio de um pedido de desculpas ao Planalto.

"Vou responder de modo geral: economia é expectativa. É característica de vários segmentos especular em processos eleitorais. Sempre especularam e não se deram bem. A conjuntura política passa e eles sofrem penalidades. Aconteceu com Lula em 2002."

Para Dilma, "a pessoa que escreveu a mensagem fez isso [tentou sobrepor opiniões institucionais aos interesses da democracia garantidos pelo processo eleitoral] e é lamentável e inadmíssivel para qualquer candidato, seja eu ou qualquer outro." 

Ela afirmou que terá uma conversa com o alto escalão do banco antes de decidir se levará o caso à Justiça. (Fonte: aqui).

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...“estamos enfrentando de forma corajosa a maior e mais grave crise econômica que o mundo enfrenta desde 2008.”, disse a presidente Dilma. Parece-me que ela pensou em dizer "mais grave crise econômica que o mundo enfrenta desde 1929". Trata-se do ano que deu início à chamada Grande Depressão, que dispensa comentários.

Quando, em 2008, o presidente Lula falou em 'marolinha', não podia, claro, antever a dimensão que a crise alcançaria, mas o Brasil reagiu de forma singular ao desastre financeiro global: remando contra a corrente, expandiu a oferta de crédito via bancos estatais, ampliou as parcerias comerciais do país mundo afora, manteve o perfil dos investimentos e preservou os programas sociais (os quais, associados ao salário mínimo com ajustes reais, contribuíram para o surgimento de novos mercados internos, dando ensejo à ampliação da renda e do emprego).

Presentemente, constata-se que a crise mundial mantém e até mesmo acentua seus perniciosos efeitos, e o Brasil, como ator nesse cenário, não poderia apresentar a mesma performance ascendente observada até pouco tempo atrás, visto que os parceiros comerciais, por exemplo, às voltas com desemprego e demais mazelas decorrentes da política de austeridade imposta pelos gestores mundiais, reduziram as encomendas em geral, afetando nossas exportações.

Em minha leiga opinião, 2015 certamente marcará a remodelação da política econômica brasileira, mas especialmente em função do mercado interno. A tese do apoio da economia no consumo, por exemplo, terá forçosamente de ser repensada... Afinal, como diz Stephen Kanitz, as coisas podem dar errado lá na frente, mas só se nada for feito até lá. 

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