sexta-feira, 11 de julho de 2014

COPA 2014: AINDA SOBRE A DERROTA MONUMENTAL

              Sonho perdido.
             
Não foi proposital, mas a velha doença da soberba

Por Percival Maricato

Para um marciano, a acachapante derrota da seleção brasileira contra a Alemanha, fosse de outro time, jogadores de caráter duvidoso, ou jogo de menor importância  mas relevante em apostas ou capaz de fazer muito dinheiro mudar de mão, seria caso de apuração na polícia, pois por demais improvável.

O técnico era experiente, motivador, disciplinador, mas sabidamente conservador nas escalações, ultrapassado em relacionamentos e táticas. Basta  lembrar que ficou um tempão no Palmeiras e não impediu que este caísse para a segunda divisão, após várias humilhações, inclusive  uma goleada de  6 x 0 do Coxa. Nesse tempo de derrotas sobre derrotas, Felipão fez o Palmeiras comprar vários jogadores, com pouquíssimos acertos, um deles, Luan, que só tinha força e era obediente taticamente, foi apontado como sendo o ideal para um time de futebol. O Palmeiras teve imenso prejuízo ao vendê-lo. Contra a Alemanha, desmentindo sua cartilha, mais parecendo estar obedecendo voz do além, alguma cartomante, colocou em campo um time ofensivo, porém sem ligação forte com a defesa. Tanto esta como o ataque ficaram isolados pela fragilidade do meio de campo. Deve ter levado em conta as dificuldades dos germânicos nos jogos anteriores, exceto Portugal, que também levou um baile.

O que se viu por todos os lados foram  os brasileiros, como baratas tontas, correndo sem estratégia ou tática , entregando a bola bisonhamente para o adversário (Fernandinho teria dormido na noite anterior?), dando botes infantis e ficando para trás (Marcelo e Davi Luiz), zagueiros deixando livríssimo um adversário para receber a bola no pé, no meio da área, em escanteio (algo que não se vê pelo menos há uns vinte anos), um centro-avante há muito sem auto estima, isolado e sem função em que ajudasse o time. Estes foram apenas alguns erros, cada qual suficiente para determinar a derrota, todos somados para explicar a goleada. É muito erro para um só dia. A partida era, porém, demasiado importante para todos e para o país e só por isso não dá para acreditar que a soma de erros foi proposital. Foi a velha doença da soberba, agravada pela incompetência, cumulada com a subestimação do adversário e aí não só do técnico e jogadores, mas dos brasileiros em geral, que os endeusavam. O país todo foi contagiado.

Fatos como esse acontecem vez ou outra no futebol, que se tornou esporte tão querido pela complexidade de técnicas, habilidade com que é jogado, diversidade de fatores que influenciam  uma decisão. Não por outro motivo é esporte que conquistou o mundo, e recentemente vem ocupando americanos e chineses, após avançar na Austrália, Canadá, Japão, Coreia etc. Os jogos entre seleções são quase sempre equilibrados pelo fato do mais fraco usar tudo o que é possível a seu favor: a habilidade de cada jogador, táticas as mais diversas, estudando e respeitando o adversário, ficando pronto para contra-ataques, para explorar um ponto fraco do adversário.

Na semifinal, o Brasil, como conjunto, talvez  mesmo na comparação de jogadores, sem Thiago Silva e Neymar, era o mais fraco; tinha que entrar cauteloso.  Mesmo entre dois times equivalentes, hábeis e ágeis, se ambos entram sem se prevenir de ataques (como ocorreu com Argentina e Holanda), tudo pode acontecer, tudo se passa muito rápido e depois que um deles tiver a porta arrombada será difícil retomar o equilíbrio e virar o jogo. Não obstante, há vários exemplos de partidas que acabaram 5 x 6, mas nenhuma 7 x 8, pelo menos no futebol profissional; a virada é impossível quando um time leva vários gols e não espera pela alta performance do adversário, não está preparado psicologicamente.

Há que se considerar que atrás de todos os erros, no início deles, estão os velhos safados que controlam o futebol no Brasil, respaldados pela máfia da FIFA. Mudar o técnico, alguns jogadores, não é tão difícil como extirpar o cancro da cartolagem. No Brasil, todos os que alcançam postos como esses (vale entidades sindicais sem tradição democrática, associações de escolas de samba, clubes de futebol profissional, cargos em poder ou órgão público), dificilmente largam.

A goleada resultará em risco de mais gol no plano político. A vítima agora pode ser a sociedade, o país. Os oportunistas, os aproveitadores irão querer se locupletar do choque, da volta do complexo de vira lata, da queda na auto estima.

É preciso que os formadores de opinião saiam a campo para recuperar o elo perdido, para num sentido bem 'nietzschiano', aproveitar-se da dificuldade para superá-la e ir mais longe, afirmar-se, vencer obstáculos, estabelecer e superar metas, em todos os campos, e não só no futebol. Vira latas são os outros. (Fonte: aqui).

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