sábado, 14 de junho de 2014

BRASIL: AGENDA DO RETROCESSO À ESPREITA


Vivemos a era das bolhas

Por Newton Lima

Entre 1970 e 2008 o mundo contabilizou 124 crises bancárias, 208 crises cambiais e 63 episódios de não-pagamento de dívida soberana.

Esses indicadores representam três crises bancárias, cinco crises cambiais e quase dois elementos de não-pagamento de dívida soberana por ano.

A “crise do subprime”, eclodida nos Estados Unidos, em 2006, que teve seu ápice em 2008, levou à ruína economias de poderosas nações, com repercussão avassaladora sobre países vulneráveis, dependentes de financiamento externo, provocando desemprego em massa e mais pobreza no mundo.

Diferentemente de crises anteriores, quando o Brasil quebrava, em razão da extrema vulnerabilidade externa, dessa vez o país não quebrou porque estava preparado, com a macroeconomia bem equacionada e estruturada; reservas que, em 2002 eram de US$ 28 bilhões, em 2008,superavam US$ 200 bilhões, e hoje são cerca de US$ 390 bilhões. Quase o dobro); e um projeto de desenvolvimento econômico sustentável centrado no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com prioridade de investimentos em logística e moradias, entre outros; na rede de inclusão social; na política de elevação do valor do salário mínimo; na redução de juros; na ampliação do acesso ao crédito; no controle da inflação; no fomento do mercado interno de consumo; e no incentivo à competitividade, inovação e investimento industrial.

A estratégia do governo do ex-Presidente Lula, continuada pela Presidenta Dilma, é um verdadeiro contraste com as políticas de enfrentamento da crise adotadas por governos brasileiros anteriores e,  atualmente, pelos Estados Unidos e pela União Europeia: A SOCIALIZAÇÃO DO PREJUÍZO, baseada no arrocho fiscal sobre os gastos sociais e na utilização de um volume astronômico de recursos públicos para salvar grandes bancos e grandes empresas.

Em recente relatório, a Organização Internacional do Trabalho denuncia o desastre dessa política para a população mais desfavorecida da União Europeia, dos Estados Unidos e de outros países, que resultou em desemprego, redução drástica da renda, há mais de cinco anos, com perspectiva de agravamento da situação, caso as medidas recessivas não sejam revistas.

Segundo o relatório da OIT, em 2012, mais de 123 milhões de pessoas nos 27 Estados membros da União Europeia, ou 24% da população, estavam em risco de pobreza ou exclusão social. Desse total, 800.000 crianças a mais que em 2008, na pobreza.

O relatório mostra ainda que as medidas de contenção orçamentária não se limitaram à Europa e que, em 2014, nada menos que 122 governos adotaram corte de despesas públicas, 82 deles de países em desenvolvimento.  O relatório destaca que mais de 70% da população mundial não tem uma cobertura adequada de proteção social.

Para nós, os efeitos da crise chegaram no momento em que a economia brasileira, depois de duas décadas perdidas, decolava com taxas de crescimento elevadas, de até 7,5%, em 2010, como resultado do projeto de desenvolvimento sustentável preparado pelo governo do ex-Presidente Lula.

A partir daquele momento, ápice da crise mundial, foi interrompido o ciclo virtuoso de crescimento do Brasil. Passamos a registrar taxas modestas, mas sem recessão, com crescimento do PIB, acumulado, desde 2008, de 17,8%, uma das maiores taxas acumuladas de crescimento entre os países do G20.

Em 2013, o Brasil cresceu 2,5%, desempenho superior à maioria dos países do grupo. Quando comparado ao dos Estados Unidos, 1,9%; ao da Rússia, 1,4%; México 1,1%; Alemanha, 0,9%; Itália, em recessão, menos 1,8%; Espanha, menos 1,3%. O Brasil perde apenas para a China e a Índia no ano de 2013. É a terceira maior taxa entre os países do G-20.

No primeiro trimestre de 2014, o IBGE registrou o índice de crescimento de 1,9%, quando comparado a igual período do ano anterior.  Essa taxa de crescimento supera a média da União Europeia (1,4%), da zona do euro (0,9%) e de países como França (0,8%) e Espanha (0,5%), segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O Brasil vive pleno emprego. A taxa de desemprego fechou 2013 em 5,4%, menor que a de países como Alemanha (5,6%); EUA (7,6%); Reino Unido (7,7%); França (11%); Itália (12,5%); Espanha (26,9%).

Em fevereiro, foram criadas 260 mil novas vagas, 111% a mais que o mesmo mês de 2013. Em abril, segundo o IBGE, a taxa caiu para 4,9%. A massa salarial cresceu mais de 10,7% em março, segundo dados da Receita Federal.

Mantemos a estabilidade inflacionária com taxas abaixo da meta de 6,5%. Em 2013, completou-se o 10º ano consecutivo, com inflação de 5,91% (IBGE), dentro da meta.

Em maio, a inflação registrou forte recuo, caiu para 0,58%, no acumulado, nos últimos 12 meses. O índice está em 6,31%, abaixo da meta.

Candidatos de oposição têm defendido redução da meta de inflação para 3%, uma medida alinhada aos mesmos fundamentos da política econômica adotada pela União Europeia e pelos Estados Unidos, para enfrentar a crise. Não levam em consideração que um índice muito baixo de inflação leva o país à recessão e ao desemprego.

A meta de inflação, estabelecida pelo governo, está equalizada, testada, e os resultados estão revelados nos índices de emprego e renda da população, na produção da economia, que mantém capacidade instalada em 81,1%, e pleno abastecimento do mercado de consumo.

Em 2013, o Brasil fez superávit primário de 1,9% do PIB, um dos maiores superávits primários do mundo nos últimos 15 anos, o quinto melhor índice entre os 35 países mais desenvolvidos.

O Brasil figura hoje entre os cinco maiores receptores mundiais de Investimento Estrangeiro Direto (IED). Nos 12 meses encerrados em fevereiro de 2014, ingressaram US$ 65,8 bilhões somente nessa rubrica.

Esses dados põem em xeque a honestidade intelectual da oposição e de certos comentaristas da imprensa que servem a ela.

Portanto, o Brasil tem hoje um projeto consistente para mudar o padrão histórico de estagnação econômica, concentração da renda e da riqueza que marca uma longa e perversa trajetória de exclusão social de amplas parcelas da população.

O que o Brasil não deve admitir é a volta do modelo predominante nos anos 1990, que levou o mundo à maior crise econômica do mundo, desde a crise de 1929, defendido pela oposição.
São os mesmos fundamentos derrotados, que a União Europeia e os Estados Unidos adotam, como estratégia para superar a crise, e que a oposição insiste como receituário para o Brasil: SOCIALIZAR O PREJUÍZO.

Newton Lima é Doutor em Engenharia, ex-reitor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), ex-prefeito de São Carlos e atual presidente da Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul. (Fonte: aqui).

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