domingo, 16 de setembro de 2012

A FOGUEIRA DAS ARMAÇÕES (III)

Ilustração: Basquiat.

O filme "Inocência dos Muçulmanos" não é caso isolado. Reproduzo a seguir duas interessantes abordagens: 

1. Filmes com mensagens anti-islâmicas não são uma raridade na América pós-11 de Setembro. A Clarion Foundation, criada pelo rabino canadense Raphael Shore, especializou-se nesse tipo de documentiras doutrinárias e vai de vento em popa. Estreou em alto estilo com Obsession, paranoico alerta sobre a guerra que os muçulmanos radicais deflagrariam contra o Ocidente caso Obama se elegesse presidente, distribuído gratuitamente em milhares de domicílios durante a campanha presidencial de 2008.

Anders Breivik, o recém-condenado terrorista de Oslo, menciona Obsession uma dezenas de vezes em seu manifesto islamofóbico. (Fonte: Sérgio Augusto: aqui).


2. Documentário que expõe de maneira detalhada como o cinema de Hollywood, desde o início da sua história até os mais recentes blockbusters, mostrou os árabes de forma distorcida e preconceituosa.
 
O filme tem como apresentador o aclamado autor do livro “Reel Bad Arabs”, Dr. Jack Shaheen, Professor da Universidade de Illinois e estudioso do assunto.Faz uma análise, baseado em uma longa lista de imagens de filmes, de como os árabes são apresentados como beduínos bandidos, mulheres submissas, homens violentos, sheiks sinistros ou idiotas perdulários, ou ainda como terroristas armados e prestes a explodir pessoas e lugares. Uma maneira brilhante de mostrar, em uma narrativa bem construída, como as imagens contribuíram e contribuem para formar os estereótipos em torno dos árabes, suas origens e sua cultura.

Para escrever o livro, o autor analisou mais de 900 filmes, o que possibilitou formar esta contra-narrativa, reforçando a necessidade de mostrar a realidade e a riqueza da Cultura e da História Árabes.
 
O filme foi exibido em diversos festivais nos EUA, Europa e Mundo Árabe e recebeu o apoio do Comite Anti-Discrimição dos Árabes Americanos. (Fonte: blog ComTexto Livre. Para ver o filme-documentário, clique aqui).

2 comentários:

Psic. Paulo R. Rech disse...

Dodó,

Gostaria de levantar outra hipótese:
1) Conforme vc diz, sim Lobato foi racista e os textos refletem este racismo.
2)Mas a frase "Não é um traço pessoal do autor (porque) expressão do Brasil daquela época" licencia todo e qualquer malfeito por ser de uma determinada época...
* Hoje estamos revendo as questões da ditadura, por exemplo, mas a sociedade tem consciencia que, embora em um regime de exceção (uma época do Brasil) os excessos e os crimes devem ser punidos.
Nos EUA, o racismo começou a ser combatido porque crimes começaram a ser punidos...
Abraços


Este aspecto da obra de Lobato é horrível e inaceitável mas não é um traço pessoal do autor. É expressão do Brasil daquela época. Aprendi com Edward Said, um dos grandes autores de nosso tempo, indispensável para entendermos outro tipo de preconceito – contra povos árabes – que nenhum homem está 100% livre dos atrasos mentais de sua época

Dodó Macedo disse...

Caro Paulo,

Penso que a posição manifestada pelo MEC, de que se proceda à contextualização da obra de Lobato (e outros que a ele se filiem no tempo e nas ideias, acrescento), é o caminho a seguir.

Grato pelo comentário.

Um abraço.