sexta-feira, 20 de abril de 2012

TEMPUS FUGIT

Ilustração: Tide Hellmeister.

Muito antes

Ruy Castro

No fim de seu reinado, que coincidiu com o fim do século 19, a rainha Vitória, da Inglaterra, foi apresentada ao projeto do submarino, um navio que viajava debaixo d'água e, de lá, disparava contra o inimigo. Vitória ficou chocada: "Quer dizer que o inimigo não verá nossa bandeira?". Era um golpe baixo e ela não quis saber. Mas isso, claro, foi muito antes dos aviões-robôs.

No Campeonato Carioca de 1913, Belfort Duarte, jogador do América, pôs a mão na bola dentro da própria área e impediu um gol do adversário. O juiz não percebeu. Belfort se acusou e exigiu que ele marcasse o pênalti contra sua equipe. E ele marcou, para desespero dos meninos Vicente Celestino, Lamartine Babo e Mario Reis, que já eram torcedores do América. Mas isso, claro, foi antes de Maradona, Messi e outros que acham normal fazer gols com a mão.

Até 1950, as rádios americanas não admitiam tocar a mesma gravação mais de uma vez a cada 24 horas. "Imagine o ouvinte perceber que já ouviu aquele disco há poucas horas!", eles alegavam. Mas isso, claro, foi antes do Top 40, da "payola" (jabá) e do roquenrol.

Nos anos 70, os clubes brasileiros não admitiam corromper seus uniformes com marcas comerciais. O que os torcedores diriam ao ver seus craques reduzidos a homens-sanduíche anunciando pneu, refrigerante ou óleo de carro? Mas isso, claro, foi antes de começarem a oferecer até o fundilho dos calções para imprimir marca de gilete ou de camisinha.

Em outros tempos, políticos e contraventores se mantinham a certa distância, sabendo que aquela intimidade era perigosa. Mas isso, claro, foi antes de o senador Demóstenes Torres (GO) e o empresário de caça-níqueis Carlinhos Cachoeira frequentarem as mesmas contas bancárias -e de, antes deles, muitos outros já terem feito o mesmo sem ser apanhados.

2 comentários:

Elizabeth disse...

Oi Dodó, gostei da lembrança do Tide,bj

Dodó Macedo disse...

Olá, querida Beth. Coisa bacana: ontem, ao 'encontrar' essa ilustração magnífica do Tide, lembrei de você.
Um grande abraço.