domingo, 11 de setembro de 2011

FALCÃO MALTÊS NA REDE


Estatueta oca

Ruy Castro

Recebi um alegre convite pelo e-mail: "Olá! O Falcão Maltês está convidando você a participar do Facebook!". Seguem-se frases prometendo que, se me juntar ao Facebook do Falcão Maltês, conquistarei amigos e influenciarei pessoas. A mensagem se despede: "Atenciosamente, o Falcão Maltês!". Para que não reste dúvida, vê-se a imagem de Humphrey Bogart segurando a estatueta do falcão, tirada do filme do mesmo nome, de 1941.

Quer dizer que agora é assim? Até personagem de ficção - "O Falcão Maltês" é um romance de Dashiell Hammett, de 1930 - já tem Facebook? Mas a pessoa por trás desse convite não deve ter visto o filme - porque parece achar que o detetive vivido por Bogart é o Falcão Maltês, um nome assim como o Falcão Negro dos velhos gibis. Ninguém lhe terá dito que o Falcão Maltês não é um homem, nem um pássaro, mas uma estatueta negra, em cujo oco haveria os ricos saques dos piratas da ilha de Malta?

Supondo que o Falcão Maltês fosse alguém de cujo Facebook se poderia participar, com quem nele você trocaria figurinhas? Com a maior concentração de bandidos e malandros por centímetro de página. O mais visível é o gordo Kasper Gutman (no filme, interpretado por Sydney Greenstreet), um aventureiro internacional que há anos persegue o falcão e, para obtê-lo, entregaria até a mãe.

Outro é Joel Cairo (no filme, Peter Lorre), malicioso, covarde, repulsivo. E ainda outro é o jovem Wilmer (no filme, Elisha Cook Jr.), tão violento quanto ingênuo. E por fim, mas não por último, Brigid O'Shaughnessy (no filme, Mary Astor), a definitiva mulher "noir", cujos beijos podem ser letais.

Por último, sim, Sam Spade (no filme, Bogart), o mais malandro de todos. Mas não a ponto de me convencer a participar desse suspeito Facebook do Falcão Maltês e, de algum jeito, acabar levando a breca.

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